sexta-feira, 11 de janeiro de 2013

DONA MORTE






Ela é um mistério. Acho que o maior de todos os mistérios, visto que todos quantos a conheceram não puderam voltar para nos contar. Chamada por alguns de eternidade, por outros de sono eterno e por outros de a viagem sem volta, a morte é algo intrigante, e, cada vez que alguém tenta desvendá-la é como se entrassem num labirinto, pois  saem de suas pesquisas mais confusos do que quando entraram.
E o mais intrigante da morte é que ela será desvendada por todos, mas só no seu devido tempo, um tempo que, aliás, ninguém quer que chegue. Até mesmo aquelas pessoas que se desgostaram da vida pensam um bocado sobre o fato de enfrentarem a realidade da morte.
O ser humano é o inimigo número um dos mistérios. Não conheço raça mais curiosa que o ser humano. Ele quer saber de tudo para ter domínio sobre tudo, mas, com a Dona Morte ele ainda não pôde, porque maior que a curiosidade humana é o seu mistério.
Às vezes ela chega em silencio na noite adormecida e leva um  e outro, as vezes chega precedida por gritos e ais, vez por outra dá uma rasteira em algum infeliz fazendo-o ter uma queda fatal, e, as vezes, rejeita esse e aquele como quem acha que não chegou ainda a sua hora de acompanha-la.
A morte parece ser a irmã rebelde da vida. Ambas são brigadas e opostas, de forma que quem pede a morte é porque por algum motivo despreza a vida. Alguns desejam morrer achando que abrindo mão da vida acharão descanso, afinal o corpo fúnebre parece tão quieto e sossegado... Outros fogem dela com o temor de que ela os conduza a algum lugar onde terão de pagar seus erros em vida.
Na verdade como o homem não consegue desvendar a morte ele tenta dominá-la por conjecturas e suposições, e na maioria das vezes ela continua sendo entendida como a maior inimiga da humanidade, como vilã, porque o homem teme o desconhecido e a Dona Morte é um grande ponto de interrogação na mente humana.
Algo que todos conhecem sobre a morte que a faz ser vista como vilã é também o fato dela levar nossos queridos pra longe de nós, sem nos dar o direito de ao menos visita-los. Muitos visitam os túmulos onde foi depositado o corpo inerte de seu conhecido, mas a sua pessoa, Dona Morte carregou pra muito longe deles. E o pior é que não temos certeza de qual foi o fim que ela lhes deu: estarão bem, estarão sofrendo, estarão nos vendo, estarão dormindo? E a morte, todos os dias elabora sua chamada, ceifando a vida de um e de outro sem ao menos nos dar satisfação. Quem quiser vê-la falar terá que acompanha-la para uma viagem sem volta e deixar os que ficarem chorando sem respostas.
Porque será que somente os saturados e infelizes buscam a morte, enquanto que as pessoas que vivem felizes amam a vida? Será que ela é realmente o polo inverso? Alguns pensam que a morte é o fim de toda a existência, do tipo, morreu, acabou. Há, porém os que creem que ela é a condução para outra vida, acima desse plano terreno. Todavia, tanto um quanto o outro tentam evita-la, e isso prova que ninguém tem certeza de nada, conjecturas e nada mais é a base do nosso entendimento sobre essa coisa misteriosa chamada morte.
A morte nos parece uma coisa mal educada, que chega sempre na hora inoportuna e persegue aqueles que nada querem com ela. Parece uma pessoa brincalhona que adora nos dar sustos, e depois gargalha ante nosso suspiro aliviado: Ufa! Foi por pouco! Esse “pouco”, nada teve a ver com nossos atos de heroísmos, mas com o fato dela resolver não nos incluir em sua lista macabra.
O que é a morte, realmente? Será que ela é nossa inimiga ou estamos temendo algo que é bom para nós? Se todos aceitamos a vida mesmo sem termos pedido para viver, porque não aceitamos a morte embora não peçamos para morrer? Perguntas e mais perguntas e interrogações sem fim cercam todo assunto referente a esse tema, e a Dona Morte não para um minuto sequer para nos dar uma explicação para abrandar nosso medo.
Pessoas ativas não gostam da ideia de um sono eterno, todos quantos tem entes queridos odiariam separar-se deles no dia, hora e momento que não escolheram para fazerem uma viagem sem volta. Vemos então que a morte não pode agradar a todos, aliás, ela desagrada muito mais que agrada. Gostamos de fazer planos sobre todas as nossas decisões, gostamos da vida adulta porque temos poder sobre nossas escolhas e aí Dona Morte vem sorrateiramente e muda todos os nossos planos como se ela tivesse o direito de decidir por nós, a despeito da nossa vontade.
Particularmente, vejo a morte como uma punição de Deus ao homem infrator de suas Leis. Todo castigo genuíno traz tristeza temporária, nos priva de algum benefício, e a morte é exatamente isso, é o ponto final pra nossa existência terrena, não que estejamos sendo punidos por nossos atos recentes, mas pelo pecado original que se iniciou no Éden e fez toda a raça humana refém. Assim como um dia o pecado ceifou o sonho de Deus em relação ao homem, a morte nos ceifa os sonhos atuais e interrompe nossos planos futuros.
A morte é algo tão ruim para a humanidade aceitar que a promessa de Jesus é de que um dia a venceremos e a sua oferta ao homem é de lhes dar a vida eterna.
A morte é bem parecida com o nascimento. Ninguém entende a vida, como um ser é formado e chega ao mundo, e, ninguém entende, igualmente, como alguém pode subitamente ser tirado dele. No nascimento, ninguém sabe prever quem é a nova vida que virá ao mundo, e na morte, ninguém pode prever quem a pessoa que sairá dele.
Ainda que os homens tentem ter o controle sobre quem vive e quem morre, sempre haverá surpresas. Alguns, milagrosamente escapam da morte, enquanto outros subitamente são alcançados por ela.
Eu só tenho certeza de uma coisa sobre a morte, isto é, que eu não tenho pressa de desvendar o seu mistério. E você?

Leila Castanha
2011

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