Moro na cidade de São Paulo. Sonho de muitos, terror de outros. Cidade bela e populosa, de gente amistosa e de coração grande. São Paulo é vasta e tem coisas diversificadas! Capital do estado que traz o mesmo nome, repleta de lindas mansões e luxuosas residências cheias de cômodos. E é esta imagem a respeito da Terra dos Bandeirantes que enche o coração dos brasileiros pelo resto do país.
Moro no coração da cidade de São
Paulo. Sou metropolitana. Uau! Tô me achando! Metropolitana! Muitos
interioranos e nordestinos usurpam viver no centro desta grande metrópole e
aqui estou eu, bem no coração da maior cidade da América do Sul. No centro da
rica e bela São Paulo! São Paulo dos lugares históricos, do Museu do Ipiranga,
do museu da Zoologia, das Artes Sacras, das Letras e muitos outros museus cuja
cultura e beleza muitos paulistas e turistas se deliciam em vislumbra-las. São Paulo dos centros culturais, teatros e
cinemas; Do jardim zoológico, do Butantã das cobras e do Jardim Botânico; dos centros de lazer e
entretenimentos tais quais os famoso Playcenter, Parque da Monica e tantos
outros, que entretém grande numero de visitantes; São Paulo dos estádios famosos, do Morumbi e Pacaembu; São Paulo do Anhembi dos eventos de fórmula Indy, dos carnavais e das grandes exibições; São Paulo da gigantesca USP, dos clubes e exposições de todos os tipos, espalhados em
todo canto dessa esperta cidade que não dorme.
Desculpe-me, mas se você pretende
nos visitar, não posso ajuda-lo: Essa São Paulo eu não conheço. Talvez conheça
tanto quanto você ou ainda menos. Sei de
muitos nomes de lugares exuberantes dessa linda metrópole, mas conhecer, de
fato, apenas dois ou três, nos quais tenho ido, algum dia na vida, com a
escola, um namorado ou alguma tia que fez a caridade de pagar o meu ingresso.
Mas não precisa ter pena de mim.
Tem um pedaço dessa terra onde conheço perfeitamente. E se alguém pretende que
eu os guie por lá, eu poderei, enfim, ajudar.
O nome é Jangadeiro. Não, melhor
fala-lo completo para soar mais bonito: Jardim Jangadeiro. Lá não tem jardim
algum, a não ser os pobres matos pelos quintais, os quais os sonhadores
proprietários chamam de planta. Creio, portanto, que ao menos o “jardim” que
prenuncia o nome do meu bairro, não deva faltar. O motivo do nome não interessa
muito, já que as conjecturas são diversas. Nesse bairro onde fixei residência,
não tem nada de interessante, a não ser o próprio povo que nele habita. Um povo
que mal se conhece devido a correria do dia a dia que os força a acelerar a
vida em prol da própria sobrevivência e de suas famílias.
A rua onde moro tem nome de
gente: Abílio César. Há quem diga que este senhor já foi dono de quase toda a
rua. Agora, não é assim. Ninguém é dono de nada e ao mesmo tempo todos são
donos de tudo. A rua é comprida e empilhada de casas e comércios que disputam
espaço com os carros e pedestres. A calçada é só de fachada. Ninguém consegue
andar sobre ela, pois a falta de espaço para as moradias força alguns moradores
a espichar um pouco mais suas casas para a direção da rua. Os carros,
pobrezinhos, sem a garagem que merecem, tem que se conformar em dormir na rua,
ou sobre a calçada em frente à casa de seus donos. A tentativa de algum
transeunte andar sobre os pedaços de calçada que lhes resta é uma visão de dar
vertigens devido ao zigue-zague que se faz necessário, ora subindo, ora
descendo para a rua. E se o sujeito resolver se munir de seus direitos e
resolver ir adiante sem mover-se dela há de bater de cara com algum carro,
barraca, degraus ou poste que lhe servirão de obstáculos constantes. Os moradores, solidários e acostumados com a
“faltura”, andam pelas guias jogados à sorte, torcendo para que algum carro não
lhes atropele ou não sejam xingados pelos cegos motoristas que não se atentam a
falta de opção dos pedestres e de quem lhes tomou a calçada.
As casas são a cara de seus
donos: pobres, desprezadas, sem espaço e empilhadas umas às outras em becos
escuros que lhes dão um ar de coisa desprezível. Cães e gatos se veem aos
montes, pois que incrível é a solidariedade dos necessitados a repartir o pouco
que tem com os que não tem nada. Os bichos alimentam-se do amor de seus donos e
servem de alimento para as pulgas, mas mesmo assim aprendem a sorrir e abanar o
rabinho. Felizes são por não pensarem, enquanto que seus donos sofrem por não
saberem distinguir o animal do racional, pois que ambos são tratados iguais e
dividem a mesma desgraça.
Arvores, não tem. Impossível planta-las na
calçada, se a calçada lhes falta. As
moradias do meu bairro não tem espaço para os lados, nem para frente ou para os
fundos, então, como os próprios proprietários já aprenderam pela dura vida, a
esperança é apelar para cima. E assim, como os olhos e pensamentos de seus
donos, que se fixam nos céus, suas casinhas vão subindo e subindo, sustentadas
pela misericórdia divina, que compreende que este é o único meio desses
infelizes ficarem sobre o chão, uma vez que suas desgraças os ameaçam, todo
dia, leva-los para debaixo dele.
Essa São Paulo é a minha cidade.
Moro no coração dela. Bem no centro. No centro da pobreza, no centro do
descaso, no centro da humilhação, no centro da hipocrisia. Meu bairro deveria
ser o cartão postal dessa cidade, já que ela aglomera bem mais cópias de nós do
que da falsa propaganda que vendem ao mundo.
Quer conhecer a cidade de São
Paulo? Então antes de viajar decida-se de que São Paulo você está falando: A
São Paulo de Alfavile, do Morumbi, dos Jardins, da Chácara Flora, da Paulista
ou a São Paulo do Jardim Jangadeiro, do Valo Velho, do Glicério, do Parque
Arariba, de Itaquera e de tantos outros lugarzinhos que os nossos governantes
faz questão de fingir que não existem?
Se você preferir pela primeira
opção, desculpe-me, mas não posso te ajudar. O que sei dessa São Paulo
resume-se em descrever casarões e gente igualmente luxuosa. Não sei de mais
nada, pois esse lado da cidade me é proibido.
Mas se apontar a segunda opção,
então, posso te garantir que você verá lugares muito feios e esquecidos, mas
conhecerá um povo extremamente acolhedor, de sorriso fácil e que pode te
ensinar muito sobre como vencer na vida!
A minha São Paulo não é lugar de
quem quer conhecer coisas, mas é o cantinho ideal para quem quer conhecer
gente. Gente mesmo. Seres humanos, que como tais conhecem todos os sentimentos.
Gente que tem dia que ri e dia que chora, tempo de festejar e de se recolher
triste, de gritar aos quatro ventos o que lhes incomoda e de ficar mudo diante das decepções que lhes
roubam as palavras. Gente que foram endurecidos pelos maus tratos da vida, mas
que tem uma mão amiga e sabe ser doce.
Bem vindo à cidade de São Paulo!
À minha São Paulo! A outra, desculpe-me, não me cabe convida-lo.
Esta São Paulo eu conheço!
Leila Castanha
05/2013
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