sábado, 1 de junho de 2013

SER HUMANO


Somos todos pó!
Acho muito interessante quando ouço alguém dizer que temos de ser mais humanos. Eu mesma uso muito esse termo. Todavia, em uma noite, envolto as névoas de preocupações que pareciam bailar dentro da minha cabeça, meus pensamentos remexiam nas caixas das minhas interrogações mais ridículas, fazendo pular delas uma pergunta que me assombrou pelo resto da noite:
“Que beneficio existe em alguém querer ser “mais” humano”?
Minha mente forçou-me a pensar tanto, que a despeito da minha vontade de dormir, todos os meus músculos se retesaram, na tentativa de ajudar-me a desvendar tal mistério, como se a descoberta pudesse calar meu tormento e levar-me aos braços do merecido sono.
“O que é o ser humano, pensei, para que alguém possa desejar ser ‘mais’ humano”?
Após perder longos minutos analisando a minha própria humanidade, não tive muitas esperanças. Ponderei as qualidades reais e intrínsecas do ser humano, claro, baseando-me em minha própria pessoa e me decepcionei ainda mais.
Deparei-me com um ser volúvel, que a despeito de sua sincera intenção de lealdade não era capaz de assinar sob suas próprias promessas. Listas de juramentos desfilavam em minha mente, quebrando-se a cada espanto de minha alma ao descobrir as dezenas de pessoas que minha inconstância havia decepcionado. Em seguida, como que num filme, passaram-se milhões de pensamentos que adentraram minha mente, e dos quais me envergonhei deveras. Ideias de vingança bailavam frente aos meus olhos fechados, como pontos de luz que me guiavam a lembrança de alguém que desejei muito que se desse mal.
  Em meio as minhas listas de compromisso, observei atônita quão falha tinha sido em cumpri-las. Desisti de muitas coisas pelas quais lutei, e passei a buscar novos sonhos, desprezando os velhos dantes alcançados. A palavra ingratidão passeava na tela imaginária de minha mente e junto com ela uma fila de pessoas e situações que estavam a minha mercê e eu as ignorara.
Diante de mim, transformadas em vultos de memória, parentes e amigos, vinham e iam, carregando um sorriso triste em seus lábios, causado pela minha escolha de isolar-me dentro de mim mesma, indiferente à necessidade alheia. Por mais que amasse alguém, era-me difícil colocá-los antes de mim. Eu necessitava ser o centro onde o amor de todos circundasse, nem que para isso, mascarasse meu egocentrismo com trajes de amor incondicional.
Minha consciência me acusava avidamente pelas muitas vezes que desejei algo com tanto afinco para momentos depois desprezá-lo, a despeito do quanto batalhei para obter. Por ter sonhado  com um desejo antigo, e depois de realizado já partir para um novo ideal, como se eu fosse um poço tão profundo onde jamais conseguisse a façanha de tocar o chão.
Finalmente, diante daquelas acusações pronunciadas pela minha consciência, senti-me como que num beco sem saída, e procurando algo em minha defesa ouvi surgir lá do fundo do meu subconsciente uma frase muito familiar, da qual sempre me utilizava quando minhas atitudes eram condenadas: "Não é culpa minha", retruquei para mim mesma, afinal, sou ‘humana’.
Então, ao perceber o que pensara, com a mente em parafuso, conclui em desalento: “Se eu sou humana, e ser humana é ser como sou, porque eu me esforçaria para ser ‘mais eu’?
Porque eu haveria de querer ser mais egoísta? Mais estúpida? Mais ingrata? Mais inconstante? Mais inconsequente? Mais falha?
Já exausta e com os olhos cansados suplicando pelo alívio do sono noturno, dentre as névoas das minhas inquietudes, surgiu um pensamento que trouxe luz às trevas da minha ignorância.
Quando alguém diz que precisamos ser ‘mais humanos’ – ponderei, mais aliviada - não se refere ao sentido real da palavra, que nos reporta a imagem de um ser deplorável e falho. Ser ‘mais  humano’,  no sentido romântico da expressão, é procurar voltar ao nosso princípio e recuperar nossa essência perdida no Éden. É a cada atitude para com o próximo ignorar o nosso Eu, e procurar com todo o coração o Ser que fomos criados. É ignorar o Ser humano  que nos tornamos, e tentar voltar a ser a imagem e semelhança de Deus.

Leila Castanha
2013


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