Não acredito em felicidade completa. Pra gente ser feliz dependemos não só de nós, individualmente, mas, das pessoas que nos cercam, especialmente, àquelas com as quais convivemos.
Se alguém é casado, por exemplo, sua felicidade depende, em parte, do seu cônjuge. Pense em uma situação em que você está cheio de boa vontade e seu cônjuge não coopera ou que você esteja tranquilo e seu (a) companheiro (a) esteja promovendo um “inferninho”. Como você poderá ser feliz, a despeito da situação em que está inserido?
No caso de um pai ou mãe, parte de sua felicidade dependerá das atitudes e comportamentos de seu filho. Como se sentirão felizes, quando assistem sua prole cruzar a linha da marginalidade, drogas ou qualquer outro tipo de rebeldia? Certamente, seria hipócrita a afirmação de que esses pais sejam completamente felizes.
Alguém que consegue o trabalho tão desejado, embora feliz com a realização, sua completa felicidade dependerá da atuação conjunta com os demais colegas de profissão. Se não houver, no mínimo, um entendimento profissional entre eles, a alegria daquele estará comprometida, porque lhe faltou o bem estar no ambiente de trabalho.
Por isso digo que nossa felicidade pra ser completa depende, em parte, de outrem, e ninguém pode ser feliz por si só independente do que acontece em sua volta. Nossa felicidade é condicionada, e, o problema é que as pessoas, que são indispensáveis pra essa realização, são todas elas, imperfeitas. Como, porém, conquistamos a plenitude se lidamos com o finito e falho? Como seremos completos, se todos nós sofremos variações de gostos, pensamentos e ideais?
Não concordo com quem pensa que felicidade não existe, mas também discordo de quem acredita que nessa vida podemos gozar a felicidade completa; de quem acha que podemos atingir o limite de estarmos tão satisfeitos á ponto de dizermos aos nossos anseios: - Basta!
Sempre haverá um vazio a ser preenchido no coração do ser humano. Nada por mais realizador que seja será capaz de nos dar a sensação permanente de satisfação total.
A vida é uma busca constante: quando bebê, buscamos andar com segurança, mais tarde, já tendo aprendido a andar, ensaiamos correr, até ficarmos peritos em nossas carreiras, e um dia o homem deseja desesperadamente voar (daí o avião como minha testemunha). Há algo no ser humano que o faz querer e querer... Há algo que o impele a sempre desejar mais do que o que conseguiu. Por isso, quando o rapaz se casa ele sente-se completo, até sentir falta de um filho, ou até mesmo da sua liberdade perdida.
Penso que felicidade não é quando temos a sensação de estar completos, mas, quando sentimos que estamos satisfeitos. Vou tentar explicar o que quero dizer: Sabemos que estamos saciados, não porque não conseguimos mais comer, mas porque sentimos que não necessitamos mais do que aquela porção que comemos. Satisfação, aqui, não é a ausência de vontade, mas a consciência de que não precisamos mais que aquilo.
Pra mim, ser feliz, é quando, a despeito do nosso vazio interior podemos olhar a nossa volta e nos sentir bem. É quando, apesar da nossa vontade de “comer” mais, conseguimos detectar que estamos saciados. Ser feliz é quando, após somar cada situação em que nos envolvemos (amizade, família, trabalho, enfim), temos a certeza que dá pra tocar a vida pra frente.
Leila Castanha
Fevereiro de 2011
Leila, sua reflexão me levou a lembrar de Paulo, o apóstolo, em sua afirmação: “(...) mas uma coisa faço, e é que, esquecendo-me das coisas que atrás ficam, e avançando para as que estão diante de mim, prossigo para o alvo, pelo prêmio da soberana vocação de Deus em Cristo Jesus”. (Fl 3.13, 14) O mesmo apóstolo, antes de indicar diretamente o seu propósito, sobre as coisas que dantes valorizava, sobre essas coisas, afirmou que as tinha por escória, para que pudesse ganhar a Cristo.
ResponderExcluirTalvez, o maior sentido da felicidade é alcançar o que foi e nos está proposto por Cristo Jesus. Mounier já nos indica que a vocação, e a sua vivência, é o princípio que nos faz viver perto da plenitude, ou seja, faz-nos viver inteiramente como pessoas, pelo fato de vivermos para pessoas, como a Igreja, e cada membro dela, que no serviço de sua vocação, se insere de maneira apropriada, como um membro específico do corpo, e nesse serviço, faz o que deve ser feito para proveito do corpo. Talvez a felicidade é um constante vir a ser, é algo que está sempre para ser alcançado, e, não é a tentativa direta de alcançá-la que nos fará gozar as suas benesses; o que aprazerá nossa alma, nossa vivência mais profunda, é a busca da vivência de nossa vocação – pois, “mais bem aventurada coisa é dar do que receber”. (At20. 35). É servindo, ou seja, vivendo a nossa vocação, que oferecemos o que realmente temos - o dom de Deus -, para ser compartilhado com o próximo. Oferecendo esse dom, estaremos trilhando a ventura que nos levará para o mesmo alvo que o apóstolo Paulo, a saber, a plenitude dos tempos.
Alcançar o entendimento sobre a felicidade exige de nós muita ponderação. Exige tempos de reflexão. A fim de alcançarmos maior entendimento, é interessante o diálogo com outras culturas e outras pessoas. Os estoicos nos indicam que felicidade está ligada com a maneira que olhamos para nossa realidade, segundo essa escola, felicidade é perceber as coisas que se tem, e infelicidade é perceber as coisas que não se tem. Segundo essa visão, se enfatizarmos o que alcançamos e o que possuímos estamos mais próximos da felicidade; se enfatizarmos o que não possuímos, dando vazão para a ansiedade e o desejo, estamos mais próximos da infelicidade. Por sua vez, Mounier fez de seu sofrimento, a doença de sua filha que a levou ao óbito, a matéria prima para se aproximar mais dos que sofrem, ou seja, permitiu que uma fatalidade redundasse para a glória de Deus. A vivência de Mounier, que fez da tragédia motiva para agir, se associa ao ideário bíblico, mas especificamente, a assertiva de Paulo: E sabemos que todas as coisas contribuem juntamente para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados segundo o seu propósito. (Rm 8. 28). Baseados nessa afirmação, pela fé, regozijemo-nos no Senhor, pois, segundo a sua graça, “os que semeiam em lágrimas segarão com alegria. (Sl 126. 5). Porém Leila, as consolações que destaco não invalidada, de forma alguma o que você escreve, pois, em muitas vezes, em nós, o espírito está pronto, mais a carne é fraca, como lamenta o apóstolo Paulo: miserável homem que sou. Mas, para que alegria volte a nos visitar, necessitamos voltar as promessas do Senhor, que pode, efetivamente, nos proporcionar alegria. Como afirma o apóstolo João:
Estas coisas vos escrevemos, para que o vosso gozo se cumpra.
(1 João 1:4)
Saúde.
Lailson,
ExcluirCompreendo perfeitamente o que você destacou em suas linhas, e creio que não fugiu do meu raciocínio transcritos no texto comentado.Sem dúvida alguma, creio de todo o meu coração que sem Cristo não há felicidade, pois conforme disse o salmista "na presença do Senhor há abundância de alegria" (Sl 16:11). Reitero as minhas palavras de que acredito na existencia da alegria, porém não na sua plenitude aqui na Terra. Pois entendo que na condição de imperfeitos e limitados não podemos conceber a alegria total (com a ausencia de tristeza), paga do pecado do homem, enquanto vivermos nesta condição carnal, pois, apesar de pertencermos à Cristo, muitas vezes nos acontece conforme narrou o apóstolo aos gentios: "Porque eu sei que em mim, isto é, na minha carne não habita bem algum; e com efeito o querer está em mim, mas não consigo realizar o bem que quero...mas o mal que nao quero isso faço". (Rm 7:18-20). Assim, penso que embora sinceros cristãos, só seremos plenamente felizes, isto é, sem sofrermos nenhum tipo de tristeza quando estivermos vivendo no Céu onde o Senhor enxugará de nossos olhos toda a lágrima. (Ap7:17)