Quando as lágrimas angustiosas teimavam descer em meu rosto sem sorriso, derramei minha dor junto ao trono da Graça Divina.
E enquanto sofria a agonia da ansiedade, expus-lhe os meus anseios e com sua mão potente arrancou de sobre mim meus fardo de cuidados e cobriu-me com sua paz.
E sem compreender o que me sucedera, assombrada pela súbita tranquilidade que invadira minha agonia e a transformara em júbilo, tentei culpar-me pelo sorriso no rosto e o cântico de regozijo, quando bem sabia das circunstancias adversas em que vivia.
No entanto, sua paz que era tão surpreendente excedia a meu entendimento, de maneira que não pude resistir descansar em Seus braços, e repousei embalada pela Sua voz que constantemente me prevenia: Não te pasmes nem te assombres porque eu sou o Teu Deus.
Durante os cruentos trajetos de minha vida, lembrava-me dos recentes dissabores e apesar das agruras ouvia minha alma cantando jubilosa. Envergonhei-me de não lamentar minha feridas, pois reconhecia a força do vento contra mim, porém não tinha vontade de reclamar pois meu coração se anestesiara.
Observava os olhares solícitos sobre minha desgraça e clamava no meu íntimo por uma lágrima qualquer, para mostrar a sinceridade do meu sofrer, mas ao invés disto minhas palavras de lamúrias saiam de meus lábios transformadas em ações de graças.
Que angustia sentia por não ser capaz de estar deprimida! Não há volta para a tua perda, meus sentidos gritavam dentro de mim, portanto, chora.
Todo o meu racional clamava pela humana reação de cair ao chão, mental e fisicamente estafada, mas algo me apoiava em pé e secava minhas lágrimas.Não eram apenas as lágrimas que não caiam, lá no íntimo da minha consciência sabia que não havia motivos para chorar. E isso me forçava a crucificar-me como um criminoso insensível e terrivelmente frio.
Eu tinha consciência da minha humanidade e da fragilidade a que pertencia minha criação. Sou frágil, sou pó.
Assustada com tamanha resistência forcei-me ao choro, que desceu sob protesto só para não desgostar-me ainda mais. Porém, percebi que chorei por não ter vontade de chorar, embora sentisse profundamente a dor que me enlaçava. Orei, angustiada e confusa: - Socorre-me Senhor que estou perecendo!
Ouvi em meu coração sua voz sussurar-me: - Eis que estou contigo todos os dias até a consumação dos séculos!
Então, compreendi porque me sentia anestesiada. Comigo estava o Deus que transforma a tristeza em abundante alegria. Que concede a paz que excede todo o entendimento. Que cuida dos órfãos e das viúvas em suas necessidades, e em cujas promessas recita aos que os clamam: - anunciar-te-ei coisas grandes e firmes que não sabes! E como me surpreendi ao aprender que não posso chorar ao lado de um Ser que enxuga toda a lágrima!
Por isso, não temo mais ser feliz em meio a tribulação, e prossigo amparada pela sua força, orientada pelo seu amor, erguida pela sua graça e socorrida pela sua misericórdia, anunciando a todos os aflitos o chamado divino aos seus braços de consolo: -Vinde a mim todos os que estais cansados e abatidos e vos aliviarei. E o resto, cada um particularmente terá com Ele sua própria história.
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