estátua de Hércules |
Fernando Pessoa, ou
melhor, Álvaro de Campos, um de seus heterônimos, em seu "Poema em Linha
Reta", insatisfeito e sincero explodiu: “...Todos os meus
conhecidos - desabafou irônico - têm sido campeões em tudo. (...)Tanta
gente que eu conheço (....) nunca teve um ato ridículo. Arre, estou farto de semideuses!
Onde é que há gente no mundo?” Por fim, num ato de inconformismo protestou:
"Então só sou eu que é vil e errôneo nesta Terra?”
No entanto, apesar de sua
alma gritar indignada, contendo seu repúdio, não ousou espernear, de fato,
diante da multidão engomada de hipócritas e demagogos na qual vivia.
Eu, todavia, sigo em
passos lentos de aprendiz, dando voz ao papel impassível, que exporá meus
pensamentos de inconformismo e levará com elegância a minha denúncia.
O chapéu da altivez, da
arrogância, da presunção de sentirem-se deuses, desprezando e humilhando todos
que se apeguem ao direito de serem, simplesmente, seres humanos.
Com o passar do
tempo, essa doença chamada arrogância, vai se enraizando no coração do homem
até gerar um mal terrível conhecido por ego que, se cresce, atrofia a mente e
seca a alma. E nesse estágio, o ser humano não consegue mais viver no meio da
sociedade comum. Ele isola-se do resto do mundo, incapaz de comunicar-se com
alguém, porque o ego é uma doença degradante que deixa o cidadão surdo, cego e
demente!
Supostos representantes
divinos que infestam nossos templos e envergonham os que reconhecem nossa
condição de reles mortais. Enchem o peito de vanglória como quem enche o pulmão
de ar, e sem piedade arranca de nós o direito de manquejar, titubear,
fraquejar, temer e tremer. Tiram-nos o direito de ser o que somos: pó e nada
mais...
Deuses! Que piada! Não
passam de meros humanos derrotados e trêmulos diante da falta de coragem de
admitir suas fraquezas.
Daí esse mundo decaído e
feiamente frio... Um mundo cheio de mortos que pensam estar vivos, ossos e
peles que andam em círculos, absortos e indiferentes por não possuírem alma.
Pessoas de todos os cantos de sentimentos embutidos e mascarados, gente que
chora ás escondidas para que não lhe vejam os olhos inchados, gente que morre
engasgada, mas nega-se a cuspir as mágoas que a sufoca, gente que prefere a
ilusão de um sorriso a uma lágrima sincera, que se conforma com tapinha nas
costas, mas não encara um abraço amigo, gente que vive
num mundo onde o prêmio é garantido a quem melhor atua, num mundo
onde não se vive, se representa, num mundo de gente que tem vergonha de ser
gente.
Desejo um mundo onde os
seres humanos parem de exigir dos outros àquilo que não são. Um mundo que me
aceite com todas as minhas imperfeições e não espere de mim o que não posso
dar. Um mundo que me deixe ser apenas eu, e me livre do fardo da perfeição.
Quero um mundo onde eu
possa chorar sem ser criticado, falar sem ser julgado, chutar o balde sem ser
recriminado, abrir o coração sem ser descriminado, usar o livre-arbítrio sem
ser reprimido, seguir a minha vida sem ser constantemente cobrado.
Detesto me sentir um
patinho feio, uma formiga fora do formigueiro, um peregrino sem pátria, um
extraterrestre no planeta onde nasci.
Vivemos num mundo
intolerante e impaciente, onde cada qual vê o outro como concorrente. Um mundo
onde cada pessoa abarca o que lhe convém e vê todo o resto como supérfluo e sem
valor algum, e nesse resto, infelizmente, vão centenas de seres humanos que a
desumanidade joga no lixo da sua estupidez.
Pobres tolos! Tomam nossos
púlpitos como arautos divinos com o coração repleto de soberba e vazio de Deus.
Usam a Bíblia para abrir os olhos de seus ouvintes, quando os próprios não
enxergam a verdade. Repugnam a fraqueza humana sem ao menos se dar conta que
ela é a chave para o poder de Deus se fazer perfeito.
Ao homem
foi-lhe imposto um limite e quem tentar transpô-lo há de cair vencido.
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