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Estou
triste. Sinto náuseas e a cabeça não para de girar. Minhas mãos tremulam e
sinto um peso no coração. Chego a pensar que vou ter um infarto. Minhas
lágrimas desobedecem minha ordem e precipitam-se pela face triste, uma após a
outra, até tornarem-se grossas torrentes.
Deito-me
para tentar dormir a fim de esquecer minha tristeza. Cubro a cabeça para que
ninguém me veja chorar. Na verdade, não estou mais chorando, mas as lágrimas
não cessam, como se a mente decidisse por fim àquele drama, mas o coração insistisse em derramar
sua angústia.
Fecho
os olhos e tento dormir sob o escuro do cobertor. Proíbo-me de pensar em
qualquer coisa para que não desatine no choro outra vez. A mente se rebela
contra a ordem do meu cérebro, e lá vou eu pensando de novo.
Briguei
com meu amor. Ele saiu de casa, magoado e sem me dirigir a palavra. Sei que
tive razão de embravecer-me com ele, mas não consigo me perdoar mesmo assim.
Ele
saiu cedo e ainda não voltou. É tarde e a negritude já cobriu o horizonte. As
portas e janelas das casas se fecharam e ele ainda não chegou ao lar. Eu, ao
contrário, não fui a lugar nenhum. Não consigo afastar-me de meu leito de dor.
Sinto
que estou doente. Tudo me dói: A cabeça, a nuca, os braços, os ossos, o coração
e a alma. Choro de novo e soluço incontrolavelmente. Viro e reviro-me na cama,
mas a dor não passa e o sono não vem. Quero desmaiar de cansaço, como saída
para apagar a minha dor. Não consigo desmaiar nem adormeço. Seco os olhos
tristes e assuo o nariz que me impede a respiração.
Já se
passaram várias horas e a dor continua doendo como no início de minha discussão.
Quero sumir! Quero morrer! Quero evaporar! Inútil! Eu e minha dor estamos
unidas como unha e carne.
Olho-me
no espelho e tento ver minhas qualidades a fim de consolar-me. Sou bonita! Sou
feminina! Sou mulher! Sorrio meio sem graça ao ouvir meus pensamentos tentando
animar-me. Olho-me nos olhos e não encontro luz. Meus olhos parecem tristes e vazios. De
repente, vejo um luzir intenso saltando para a órbita ocular. Minha visão se
embaça, e as lágrimas explodem como cachoeira, tomando conta de minha face.
Não
posso sorrir, por mais que tente. Não posso pensar positivo, apesar de meus
esforços. Tento mentir para o meu coração, mas ele não me dá ouvidos. Olho para
mim, mas não me encontro. Tento consolar-me, mas não consigo. Choro outra vez.
Deito-me
encurvada como uma criança no ventre materno. Sinto-me desprotegida e
solitária.
Ouço o
barulho do molho de chaves e, em seguida, passos que atravessam a casa. Fico
imóvel com o rosto sob a coberta que me protege do mundo exterior. A porta do
quarto se abre, mas ninguém fala nada. Um barulho mudo se faz presente ao redor
de minha cama e os passos me são familiar. “É ele!” - penso fingindo ignorar
sua presença. Os passos se afastam para
outro cômodo e meu coração se desespera.
Eu o
quero, o desejo, e necessito de sua presença! Mas o orgulho me proíbe de chamar
o seu nome. Ele demora-se e eu invento uma desculpa para ir onde ele está.
Levanto-me e vou beber água. Passo por ele, mas ninguém se pronuncia. Ele esquenta um café e eu encho o copo
de água. Encontramos-nos no meio da cozinha e cada qual, em silêncio, recua
para que o outro passe.
Volto à
cama. Ele liga a Tv na sala. Sinto as lágrimas me molharem o rosto já queimado
pelas várias tentativas de enxugá-las. Gemo baixinho e aperto os olhos na
tentativa de expulsar a última gota. Não quero mais chorar por causa dele.
Deixo
os minutos passarem até que percebo o óbvio:
Não choro por causa dele, mas por minha causa. Não consigo viver sem a sua
companhia, pois o mundo sem ele é um enorme borrão cinzento.
Assuo o
nariz e engulo o orgulho que me sufoca. Chamo o seu nome com a voz ainda
embargada. Ele aparece a minha frente, no quarto. Digo-lhe que estou passando
mal e preciso de sua ajuda. Ele se agita e me pergunta o que sinto.
“Nada
de mais” - respondo-lhe, fitando-o com os olhos inchados de chorar – “apenas me
abrace”.
Ele tem
a cara amarrada, mas mesmo assim se deita ao meu lado e põe o braço em cima do
meu corpo tenso e faminto de seu amor.
Choro
de novo. Ele aperta-me contra o corpo e pergunta, com a voz um pouco travada, se
estou sentindo alguma coisa. Penso que me sinto a pessoa mais feliz do mundo,
mas digo-lhe apenas que estou bem. Ele cala-se, enquanto eu viro-me e olho para
ele. Dou um sorriso amarelo
e, apesar de contragosto, ele me corresponde. Fecho os olhos, aperto-lhe o
braço sobre o meu corpo e só então pego no sono.
Leila Castanha
13/12/2013
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