quinta-feira, 10 de janeiro de 2013

QUANDO EU CRESCER


Quando eu era criança perguntavam-me o que eu queria ser quando crescer.
Ora eu dizia que queria ser médica pra cuidar dos doentes jogados nas filas dos hospitais públicos,ora queria ser recepcionista pra atender bem os clientes,ora queria ser professora para tentar ensinar os menos inteligentes da turma e, assim, quem sabe, lhes ajudar no futuro.
A verdade mesmo é que não tinha certeza daquilo que pretendia ser quando fosse adulta. A única coisa que sabia é que queria ser útil aos outros, não importasse a profissão que viesse a escolher.
Ainda bastante jovem, trabalhei em meu primeiro emprego cuidando de um garotinho de quatro anos de idade e, desde então, se tornou a minha profissão. Sou babá e, como desejava, trabalho em um emprego que exige de mim muito carinho e dedicação.
Embora ame o que faço, não pretendo envelhecer nessa profissão, uma vez que ser babá requer muita paciência e folego, coisas que se acabam com o avanço da idade.
Quando eu brincava de trabalhar podia mudar de profissão assim que me cansasse da primeira, e “trabalhava” de qualquer outra coisa que desejasse. Mas, aí é que está o problema da vida real: a gente não faz o que quer, mas o que pode, pois, ainda que deseje fazer outra coisa profissionalmente, não encontro  espaço e vou levando meu atual emprego com a barriga até que, quem sabe, um dia alguém entenda que não nasci predestinada a ser babá, mas que tenho capacidade de recomeçar em qualquer outra atividade que escolher.
Preciso cursar uma faculdade pra tentar um futuro diferente, mas com o ensino precário a que me submeti durante todo o ano escolar, em colégios públicos, sei que só um milagre me fará conseguir uma bolsa de estudos. Não pense que sou pessimista, é que deixei de aprender muita coisa devido ao sistema precário dessas escolas em que fui forçada a estudar.
Quando eu era criança nunca me deparei com esses problemas em minhas brincadeiras! Eu sabia tudo e estava preparada pra qualquer teste, pois em meus sonhos infantis meu mundo era perfeito, tinha bons professores, dos quais, às vezes, eu fazia parte.
Mas hoje não é assim. Deparo-me com a mais crua realidade da vida adulta. Se quiser estudar pra melhor me qualificar pra um novo emprego, sou testada com provas e exames que medirão meus conhecimentos escolásticos, e o termômetro com que medem minha capacidade é baseado no grau de qualidade que nunca houve no ensino demasiadamente fraco e febril, da doentia instituição pública de que me servi.
Que tipo de avaliação se pode dar a pessoas que cursaram o ensino fundamental e médio na pobre estrutura educacional que o governo dá acesso? A minha avaliação, senhores, é exatamente a nota de quem me deu por opção o ensino mesquinho e enfadonho das escolas públicas desse país.
Quando eu era criança queria crescer pra virar gente grande e fazer tudo o que desejasse. Seria quem eu quisesse ser e faria o que quisesse fazer.
Cresci e descobri como eu era feliz enquanto sonhava em ser gente grande. A realidade hoje é bem diferente da que eu pensava ser, quando criança.
Descobri que pra ser gente grande não basta ter estatura, no mundo dos adultos, ser gente grande depende de estrutura, e como eu disse, a minha foi baseada num fundamento precário.
E hoje, como criança, volto a sonhar com o meu futuro, e penso, a cada momento que me deparo com a vida que descobri não ser nem um pouco brincadeira: O que será que vou ser, se um dia  eu crescer?



Leila Castanha

Fevereiro, 2011


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