A
igreja deveria ser o ponto de encontro entre o pecador e o seu Redentor, o
local onde o necessitado encontre apoio e o aflito possa abrir seu coração sem
medo. Mas,
o que temos visto é que os bares tem tomado o lugar da igreja. Lá, movidos pelo
álcool, todos falam, choram, dão risada, e no dia seguinte quando se sentem sós
novamente, ao invés de entenderem que sua ida até esse local não lhes tirou o
vazio da alma, lá vão eles passando na frente de dezenas de igrejas em direção
ao velho bar.
Ouvi
dizer que se as pessoas tivessem mais tempo para ouvir não se faria necessária a
existência de psicólogos. É indesculpável a igreja ser reprovada nesse quesito,
uma vez que a Palavra de Deus nos adverte a ser tardios em falar e prontos para
ouvir. No entanto, o que se vê são crentes mesquinhos, apressados para falar e
sem nenhum interesse de ouvir os próprios irmãos que sofrem. Se não aprendemos
a lição entre nós mesmos como a igreja vai estar apta a ouvir estranhos que
adentrem em seu templo a procura de socorro?
No
bar, todos sabem que há meros desiludidos e derrotados, cujas decepcionais da
vida os levam a amortecer suas memórias anestesiando sua dor com o
entorpecimento gerado pelo álcool. Somos todos humanos, e apesar disso, não
achamos humanidade na Igreja. Como esperar que os crentes entendam os pecadores
quando não se preocupam com os próprios irmãos de fé?
Infelizmente,
muitas igrejas julgam os pecadores seus inimigos ao invés de vítimas do
verdadeiro Inimigo. Outros se associaram tanto a eles que estão tão perdidos
quanto os próprios, ficando assim, incapazes de ajudá-los.
Ouvir
e estender a mão ao necessitado deveria ser o papel da Igreja, cujo campo de
trabalho deve ser a obra social, e o material utilizado é o Amor. Não devemos
ser companheiros de copo de almas magoadas e tristes, mas ainda assim, somos
companheiros de vida: conhecemos todos os embates e desprazeres dos quais eles
tentam fugir. Vivemos no mesmo mundo que eles e também já enfrentamos
dificuldades e pesares.
Temos
olhos para ver, ouvidos para ouvir e boca para falar, e quando tudo isso não
basta, disse o apóstolo aos gentios: chorai com os que choram. Chorar, porque
sentimos muito a dor alheia e desejamos ardentemente aliviá-la. Um choro
sincero vale mais do que mil palavras, tanto que quando não sabemos mais o que
pensar ou fazer diante de nossas dores apenas choramos. E quanto mais nos dói
mais choramos até nos sentirmos aliviados.
No
bar, regidos pela embriaguez, ninguém tem vergonha de chorar, de abraçar, de se
confessar, de ser transparente e sincero. É por isso que ele vive cheio, e não
há lei que consiga esvaziá-lo. Enquanto a Igreja não cumprir o papel pelo qual
foi designada, os bares tomarão o seu lugar.
Sozinhos,
pelos nossos próprios esforços, não conseguiremos tirar a máscara que usamos no
nosso dia a dia. Pois no mundo não podemos ser nós mesmos, com exceção de
quando fechamos nossas portas e ficamos só.
No
meio do povo mascaramos nossos sentimentos, mentimos nossas opiniões e fazemos
o possível para sermos aceitos no grupo em que precisamos pertencer. Somos mais
o que os outros ditam do que o que nós gostáramos de ser. A sociedade exige que
sejamos pessoas mascaradas.
No bar as máscaras caem, e vemos barbudões chorarem, grandalhões confessarem
seu amor escondido, caras durões exporem suas fraquezas. Enfim, o álcool
tira-lhes as máscaras de forma que os deixa ser quem realmente são no coração.
Sem isso eles não conseguiriam se expressar.
Assim
é a Igreja, precisamos de algo que também tire nossa máscara diante do mundo.
Por isso o experiente Paulo nos adverte: Não vos embriagueis com vinho... Mas enchei-vos do
Espírito. (Ef. 5.18)
Só
um crente cheio do Espírito tem a mesma sensibilidade de uma alma embriagada.
Ele não se envergonha quando sente que alguém carece de um ósculo santo, não
recusa dar boas admoestações, não se embaraça diante de um abraço amigo, não
esconde lágrimas sinceras, não se nega a cantar com os que se alegram, nem a chorar
com os que choram. Enfim, quando estamos cheios do Espírito, esquecemo-nos de
nós mesmos e vemos os outros com os olhos do Mestre, desprezando as aparências
e buscando suas essências.
Mas,
infelizmente a Igreja tem invertido o seu papel no mundo. Ao invés de
produzirem o fruto do Espírito o que vemos em nossos templos são pseudos
crentes, cheios de obras da carne, lutando desesperadamente pelo seu próprio
reino. Estão na igreja, não com o propósito bíblico de ser luz no mundo,
mas para que Deus os ajude a encontrar no mundo uma luz para guiá-los em
direção ao sucesso financeiro, a fama, e tantas outras coisas que aos olhos de
Deus não tem sentido algum.
Como se compadecerão de estranhos se os próprios irmãos são deixados à míngua?
Irmãos carentes financeiramente são visitados e tudo o que lhe deixam são
palavras vazias tiradas da letra da Bíblia, mas completamente distanciada de
seu espírito. São capazes de chorar com eles, mas não têm o senso de ajudá-los
em suas necessidades, como se suas presenças físicas fossem resolver todo o
problema do outro. No entanto, não são capazes de enxergarem que Cristo
dava-lhes o alimento para suas almas conjuntamente com o alimento material.
O
Senhor nos deixou a lição de que servir a Deus não nos torna deuses. O alimento
celestial, enviado através de sua Palavra, é um fortificante para a alma,
todavia, o corpo também necessita de alimento próprio. Daí a critica de Tiago
no tocante à hipocrisia de despedir alguém em paz quando a pessoa precisa de um
agasalho ou alimento (Tg.2.15-17). A paz virá através do nosso gesto
de caridade, dando-lhes o que vestir ou comer.
Como a Igreja perderia tempo ouvindo os pesares de estranhos se lhe falta
misericórdia diante dos problemas dos próprios irmãos de fé? Muitos pastores
aprenderam usar a vara e esqueceram-se de que uma ovelha em perigo necessita do
apoio do cajado, e agindo assim, matam os mais fracos e enchem de feridas os
mais resistentes.
Como uma pessoa procurará a Igreja para encontrar Cristo, se não veem Cristo
nela?
Homem, apenas, encontra-se em qualquer outro lugar. O que procuram são pessoas,
cuja vida seja comparadas a de Elias sobre quem o povo dizia: Conheço que és
homem de Deus (I Reis 17.24).
Procuram
homens, que apesar de sua humanidade, podem seguir o exemplo de Paulo: não mais
vivo eu, mas Cristo vive em mim.
Quanto
mais cristãos nos tornamos menos aparecemos, e mais Cristo aparece em nós. Mas
o que vemos em nossas igrejas é que os que se julgam cristãos autênticos
acreditam ter o direito de, desde então, reinar com
Cristo, e diferentes do agir do Senhor, passam a não mais perdoar as fraquezas
alheias, incriminando e recriminando os que de algum modo tropeçam,
esquecendo-se da admoestação bíblica: o que está em pé olhe que não caia. (1 Co
10.12)
As
igrejas estão se multiplicando e o povo está cada vez mais perdido. Aumentam-se
as práticas religiosas e diminuem-se cada vez mais as práticas cristãs. O
buscar a Cristo em nome ao amor pelo dinheiro tem tomado o lugar do buscá-lo
por amor a Ele. A cura física está sendo mais priorizada que a restauração
espiritual. Os milagres exteriores, os quais os olhos podem detectar, estão
sendo mais procurados quando deveria consagrar-se mais em busca do verdadeiro
milagre: aquele que Deus opera no coração do homem, que o torna apto para
produzir o chamado fruto do Espírito.
Temos
muitos templos com o nome de Cristo, mas a igreja de Cristo está cada vez mais difícil
de encontrar. Sei que ela existe, e não está rotulada com placas
denominacionais. A igreja de Cristo está entre nós, e muitos de nós fazemos
parte dela. Identificá-la, porém, é uma missão quase impossível.
Para
quem deseja congregar em um templo onde a igreja do Senhor impere, está tão
difícil encontrar, como o é achar uma agulha no palheiro.
Por
isso meu clamor a Deus, é um agonizante S.O.S:
“Senhor,
ajude-me a encontrar tua Igreja na Terra.”
Leila
Castanha
20-04-11
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