Estou para conhecer algo
mais traiçoeiro do que a mente humana. Embora ela nos ajude a separar a
realidade da ficção, ela também é perita em inventar histórias.
Outro dia, durante uma
ligação, a pessoa com quem eu falava me contou que o médico diagnosticara qual
era a enfermidade causadora dos sintomas terríveis que sentia. Ao ouvi-la descrever os horrores
que passava com as reações provenientes daquela doença, senti-me solidária, e
do intimo do meu ser desejei jamais ter que passar por aquela situação.
No entanto, alguns minutos
após o término da ligação, reparei que sentia os mesmos sintomas. Fui para a
cama e pensei, em desalento:
“Quem diria! Estou com a
mesma doença que acabei de ouvir falar”.
Apalpei o meu corpo a
procura de mais vestígios e descobri estarrecida que podia senti-los e até
vê-los a olho nu. Após esta constatação os sintomas pareciam cada vez mais
fortes. Tamanha foi a pressão que sofri com o choque que minhas mãos tremiam e
tive grande vertigem, o que piorou ainda mais o meu diagnóstico:
“Meu Deus, pensei sentindo
o corpo desabando, já deve fazer anos que sofro disso e só agora percebi!"
Finalmente, reconhecendo
que meu fim estava próximo, passei a sentir pena da minha desgraça e até
esqueci-me da pessoa que contara ter descoberto que sofria da mesma enfermidade
que eu.
Já sem conseguir dar conta
de estabilizar os sintomas horríveis e diários dirigi-me ao médico e
relatei-lhe o ocorrido (não do telefonema, mas da minha enfermidade). O doutor
olhou-me por alguns segundos e rabiscou uma medicação:
-Tome isto somente a
noite, durante trinta dias ininterruptos.
-O que é isto? - perguntei,
sentindo uma ponta de raiva, pelo relaxamento do profissional que nem me
consultara - O senhor nem me
examinou...
-Claro que a examinei-
defendeu-se o médico - por isso lhe receitei esse remédio.
- Então... - disse-lhe eu sentindo
as mãos suarem - o que tenho?
- Nada - respondeu-me o
doutor, com um sorriso que odiei - é tudo psicológico. Tome estes calmantes
que você ficará ótima.
Levantei-me, escondendo
minha reprovação, agradeci-lhe a atenção e sai do consultório. Ao fechar a
porta atrás de mim, desabafei com o meu acompanhante:
-Droga de médico, acha que
basta olhar para a cara do paciente que é o suficiente para descobrir-lhe a
doença.
Em seguida, caminhamos
rumo ao carro enquanto eu vomitava
nos ouvidos do pobre homem o meu desapontamento, ao que solícito apenas
concordava.
Alguns metros distante do
hospital lembrei-me dos sintomas que me forçaram a visitar aquele lugar, e
ponderei sentindo meu rosto enrubescer:
-Como pode, nem cheguei a
tomar os remédios e já me sinto bem!
E o pior é que eu sabia
que não estava mentindo sobre os sintomas anteriores. Não tinha porque inventar
aquilo. Eu sentia de verdade e sofria tão verdadeiramente quanto contei ao
médico.
Enquanto continuava o
trajeto de volta para casa sentia-me confusa e decepcionada comigo mesma.
-O que é isto? - pensei
confusa - Doença psicológica?!
Ao ligar os nomes,
compreendi do que se tratava:
“Psicológica, deve ser
algo ligado à mente, então... - conclui
por dedução- ela só pode ter me enganado reproduzindo em mim o mal alheio.”
“Claro! - gritou uma
vozinha irônica que parecia vir do fundo do meu cérebro – por que você acha que
se chama “mente””?
-Ah é! - pensei alto,
assustando meu companheiro que dirigia - ela me pegou de novo!
É, de novo, pois essa não
foi a primeira, nem a última vez que minha mente inventou suas histórias
fantasiosas e me pregou peças.
Talvez isso aconteça
porque durante toda a nossa infância ela nos divertiu criando histórias
imaginárias, desde monstros
a fada, e como isso nos fazia bem, quem sabe ela acredite que ainda precisamos
de suas brincadeiras?
Independente do porquê ela teima em nos causar sustos, fazendo-nos confundir realidade com ilusão,
acredito que o segredo de mudarmos a sua
atitude é tomarmos o comando.
Uma mente controlada é
capaz de nos levar aos altos da vitória, mas os que se deixam controlar por ela
geralmente o seu limite são os quartos de hospício ou os leitos da depressão.
Portanto, se você tem uma
historia parecida com esta, o melhor é apressar-se em tomar as rédeas dos seus
pensamentos antes que a sua mente te leve para lugares que te farão lamentar a
sua falta de domínio próprio.
Leila
Castanha
2013
2013
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