A primeira vez é sempre assim: Dá um friozinho na barriga, uma insegurança que sai de não sei onde, um medo de cometer gafes e uma sensação teimosa de que não vai dar nada certo. É verdade que a intensidade desses sentimentos varia de pessoa para pessoa, no entanto, todos conhecem a interrogação que acompanha a quem vai fazer algo pela primeira vez.
Particularmente, sou uma
pessoa que tem o mau hábito de diminuir os meus valores. Normalmente, penso que
não sou capaz disso ou daquilo. Por causa dessa minha deficiência minhas
experiências como principiante costumam tornar-se ainda mais terríveis e
propensas aos mais diversos “micos”.
Aí vai quatro de
minhas diversas histórias geradas pela “primeira vez” na qual me inseri em alguma
situação na vida:
Lembro-me que na igreja em
que congreguei durante minha adolescência, quando alguém ingressava no rol de
membros, o culto seguinte era separado para que os novos ingressos tivessem sua
primeira oportunidade de falar à igreja.
Como me preparei para este
dia! Segui até a dica de um amigo, mirando-me ao espelho enquanto proferia cada
palavra. Após alguns ensaios, achei que estava perfeito!
Finalmente, eu estava preparada e, apesar de um pouco nervosa
devido a minha falta de experiência, não via a hora de falar meu primeiro
discurso para o público daquela igreja.
Quando menos esperei, o
dia almejado chegou. Pena que no dito momento, já não era tão desejado assim...
Eu era todo nervosismo e ansiedade! Podia sentir meu coração ameaçando pular
pela boca e minhas pernas estavam tão trêmulas que era possível vê-las se
esbarrando uma na outra.
De repente, ouvi meu nome
ser proferido ao microfone e quase tive um piripaque. Mas, escondi minha crise
nervosa sob a máscara do sorriso e subi no púlpito com toda a pose de quem
estava segura de si. Aí comecei a recitar todas as palavras que havia treinado
e decorado nos meus ensaios prévios, tendo o cuidado para não deixar escapar
nenhuma vírgula ou ponto sequer.
Terminei meu breve
discurso (iniciantes não costumam ousar muito), desci meio atordoada sem
entender direito se fiz tudo certo ou se errei em algum momento na “decoreba”,
e já sentada comecei a rever silenciosamente se segui todo o esquema
pré-estabelecido nos dias de ensaio.
Horas depois, revendo cada
palavra e as entonações por mim usadas, fiquei extremamente desapontada.
Percebi que esqueci frases, das quais julgava importantes, errei as entonações
precisas que fariam minhas palavras mais claras, gaguejei algumas vezes ferindo
a estética do discurso, enfim, minha “primeira oportunidade”, simplesmente, não
saiu como eu previa!
Em outra ocasião decidi
sair sozinha pela “primeira vez”, isso lá pelos meus dezessete anos de idade.
Saí com a cara e a coragem para realizar essa aventura, justamente na selva de
pedra do centro da cidade.
Ao andar por aquelas ruas
tão pequenas ao meu entender, após algumas horas vagando por elas mudei minha
ideia inicial e passei a ver aquele emaranhado de trajetos como um
complexo labirinto, pois quanto mais eu andava a procura de um endereço, mais
distante dele eu me encontrava.
Meses depois, apesar da
nítida lembrança das desventuras que sofri naquele lugar, a persistência diária
fez-me compreender que não era tão difícil assim andar no miolinho de São
Paulo. Muito diferentemente do que achei no primeiro dia em que resolvi
descobrir meu lado aventureiro!
Outro dia, resolvi pegar o
metrô, vale dizer que na época há muito não me utilizava desse meio de
transporte, e como se fosse minha primeira vez, achei tudo muito novo,
principalmente pelo avanço da modernidade que tinha lhe dado outros ares, e lá
passei mais um dos inúmeros micos de principiante.
Na hora de passar na catraca, encostei o
bilhete no visor ao invés de colocá-lo sobre o leitor, que ficava um pouco
abaixo. Para que eu não fosse responsável por uma fila quilométrica, alguém fez
a gentileza de me auxiliar, indicando-me o local correto. O problema agora era
outro: todas as vezes em que aquela alma bondosa que me auxiliara olhava em
minha direção eu queria sumir, pois ficava imaginando as gargalhadas produzidas
pelo seu cérebro.
Outra situação ainda mais
cômica foi quando pela primeira vez utilizei os terminais de ônibus no período
noturno. Certa noite, ao fazer a transferência de um ônibus para o outro dentro
do terminal precisei atravessar para o outro lado, a fim de alcançar a
plataforma onde ficava meu transporte. Comecei a subir a rampa, que tinha forma
de um S de barriga para baixo, e reparei que apesar de cerca de dez pessoas ter
descido do ônibus juntamente comigo, somente eu estava subindo aquela rampa
enorme. Pensei, pensei, pensei, e continuei sem entender para onde foram todos.
Ao descer a outra rampa
que daria acesso à minha plataforma, finalmente cheguei ao dito corredor e
percebi que cometera mais uma das minhas coleção de micos de principiante: a
partir de determinada hora da noite, os portões que dão acesso às plataformas
ficavam liberados ao público, por isso, aquele povo que desceu do ônibus
comigo, simplesmente desapareceu a minha vista. Os passageiros chegaram a outra
plataforma do terminal atravessando na faixa, um local plano e suave, enquanto
eu levei alguns minutos consideráveis para atravessar aquela ponte
sem fim.
Contei estas histórias
dentre tantas outras que me sucederam, só para dizer o seguinte: Todos nós
temos capacidade de aprender, mas não devemos nos esquecer de que para tanto,
ninguém pode pular esta fase chamada “a primeira vez”. Por isso, pare de adiar
seus planos com medo de que algo possa dar errado, pois se você persistir nesse
pensamento apenas irá adiar essa experiência “inevitável”.
Veja a vida como um jogo:
Se passar na primeira fase, as demais se apresentará automaticamente. Sua
primeira vez é só a porta para entrar no mundo dos seus ideais, depois, a
tendência é ficar mais fácil. Portanto, coragem e vá em frente!
Afinal, a primeira vez só
acontece uma vez, as demais vezes a experiência se encarregará de fazer ficar fácil.
Leila Castanha
03/2013
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