Deus é Espírito (Jo 4.24a) |
Calma, já explico o que
quero dizer!
Para iniciar minha
reflexão sobre este tema, recorro ao salmo 32.7 (parte a), onde Davi dirige-se
a Deus em sua oração dizendo: "Tu és o lugar em que me escondo!"
Analisando este
quadro em que Davi lança-se nos braços de Deus, desamparado e temeroso,
buscando Nele sua segurança, imagino a cena de uma criança insegura e
indefesa buscando amparo e guarida nos braços de sua mãe. A partir desse
episódio, reporto-me a algumas situações as quais creio que todos nós já
passamos quando crianças.
Lembro-me de um cenário
bastante comum às mães e aos filhos em idade escolar, cuja hora mais terrível
para o pequenino é seu primeiro dia de aula, ou seja, seu primeiro dia sem a
sombra protetora da matriarca.
Esta ao despedir-se de seu
filho assustado e confuso por compreender a sua frente situações novas a serem exploradas,
e estando a criança consciente de que não terá ao seu lado aquela figura amiga
que tão bem conhece, fixa o olhar de sua mãe com uma enorme interrogação
saltando dos próprios olhos e por um instante fita-a seriamente.
De repente, o pequeno
sorri timidamente e rende-se as mãos da professora que o leva porta
adentro, que o leva sem entender o motivo de sua rendição. No entanto, ambos,
mãe e filho bem o sabem. A criança acabara de ler no olhar materno
aquela frase que sempre o estimulara: "Não tenha medo, eu estou
aqui!"
E foi exatamente isso o
que aconteceu ao apóstolo Paulo quando em sua primeira defesa sentiu-se só e
desamparado e mais tarde ele mesmo revelou o motivo de seu êxito, dizendo a
Timóteo: "O Senhor assistiu-me e fortaleceu-me" (2 Tm 4.16,17). Em
nossa linguagem podemos entender sua frase num texto muito mais familiar:
"O Senhor estava comigo!"
De outra feita, Moisés,
antecedendo ao apóstolo, inseguro e temeroso ante ao peso da responsabilidade
de sua missão em levar o povo de Israel à Canaã, protestou, "batendo o
pé" decidido: "Sem a tua presença não sairei daqui" (Ex. 33.15)
Por acaso não era assim
que nos sentíamos diante da ameaça do afastamento materno?
Não compreendo porque
tanta relutância em comparar Deus à uma mãe, se o próprio comparou-se a esse
ser singular, dizendo ao povo de Israel: "Como alguém a quem consola sua
mãe, assim Eu vos consolarei..."
Deus não viu problema
algum em comparar-se à elas, então porque teremos?
A verdade é que a Bíblia
diz que Deus é espírito, portanto um Ser desprovido de sexo: ele não é homem,
nem é mulher, mas espírito (1Jo 4.8).
Sabemos que na cultura
judaica, a mulher era vista de forma mais inferiorizada, por isso não seria uma
boa ideia associar Deus a figura feminina. Mas todos os indícios bíblicos que
tratam acerca do procedimento divino nos trazem à lembrança o cuidado e
tratamento de uma mãe junto a seu filho. Não há nada de errado em compara-lo a
um Pai, porém, que tal vê-lo com outras lentes?
Pense numa mãe chorando
pelo filho rebelde e entenderás o amor de Deus pela humanidade que o rejeita. O
mais interessante é que o amor de Deus sobrepuja o amor materno, de forma que,
se você foi abandonado por sua legítima mãe Ele o recolherá, ou se ela te
esqueceu, Deus promete que jamais te esquecerá. E se acaso te rejeitou e não te
perdoa, Ele afirma que o que vem a Ele não será lançado fora.
Meu interesse não é de
refutar a figura paterna de Deus, antes, ampliá-la, ou seja, poder mostrar que
Deus é Pai para quem precisa dele como tal , mas também é Mãe para quem necessita
de seus atributos maternais.
Enfim, visto que Deus é
espírito, isto é, um ser desprovido de sexo, e mesmo assim concordamos com a
frase metafórica: "Deus é Pai", então em meio as inúmeras coincidências
entre o amor de Deus e o amor de mãe, atrevo-me a afirmar:
"Deus é Mãe! E que
Mãe!"
Leila Castanha
2006
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