terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

DEUS É MÃE


Deus é Espírito (Jo 4.24a)


Calma, já explico o que quero dizer!
Para iniciar minha reflexão sobre este tema, recorro ao salmo 32.7 (parte a), onde Davi dirige-se a Deus em sua oração dizendo: "Tu és o lugar em que me escondo!"
 Analisando este quadro em que Davi lança-se nos braços de Deus, desamparado e temeroso, buscando Nele sua segurança, imagino a cena de uma criança insegura e indefesa buscando amparo e guarida nos braços de sua mãe. A partir desse episódio, reporto-me a algumas situações as quais creio que todos nós já passamos quando crianças.
Lembro-me de um cenário bastante comum às mães e aos filhos em idade escolar, cuja hora mais terrível para o pequenino é seu primeiro dia de aula, ou seja, seu primeiro dia sem a sombra protetora da matriarca.
Esta ao despedir-se de seu filho assustado e confuso por compreender a sua frente situações novas a serem exploradas, e estando a criança consciente de que não terá ao seu lado aquela figura amiga que tão bem conhece,  fixa o olhar de sua mãe com uma enorme interrogação saltando dos próprios olhos e por um instante fita-a seriamente.
De repente, o pequeno sorri  timidamente e rende-se as mãos da professora  que o leva porta adentro, que o leva sem entender o motivo de sua rendição. No entanto, ambos, mãe e filho bem o sabem. A criança acabara de ler  no olhar  materno aquela frase que sempre o estimulara: "Não tenha medo, eu  estou aqui!" 
E foi exatamente isso o que aconteceu ao apóstolo Paulo quando em sua primeira defesa sentiu-se só e desamparado e mais tarde ele mesmo revelou o motivo de seu êxito, dizendo a Timóteo: "O Senhor assistiu-me e fortaleceu-me" (2 Tm 4.16,17). Em nossa linguagem podemos entender sua frase num texto muito mais familiar: "O Senhor estava comigo!"
De outra feita, Moisés, antecedendo ao apóstolo, inseguro e temeroso ante ao peso da responsabilidade de sua missão em levar o povo de Israel à Canaã, protestou, "batendo o pé" decidido: "Sem a tua presença não sairei daqui" (Ex. 33.15)
Por acaso não era assim que nos sentíamos diante da ameaça do afastamento materno?
Não compreendo porque tanta relutância em comparar Deus à uma mãe, se o próprio comparou-se a esse ser singular, dizendo ao povo de Israel: "Como alguém a quem consola sua mãe, assim Eu vos consolarei..."
Deus não viu problema algum em comparar-se à elas, então porque teremos?
A verdade é que a Bíblia diz que Deus é espírito, portanto um Ser desprovido de sexo: ele não é homem, nem é mulher, mas espírito (1Jo 4.8).
Sabemos que na cultura judaica, a mulher era vista de forma mais inferiorizada, por isso não seria uma boa ideia associar Deus a figura feminina. Mas todos os indícios bíblicos que tratam acerca do procedimento divino nos trazem à lembrança o cuidado e tratamento de uma mãe junto a seu filho. Não há nada de errado em compara-lo a um Pai, porém, que tal vê-lo com outras lentes?
Pense numa mãe chorando pelo filho rebelde e entenderás o amor de Deus pela humanidade que o rejeita. O mais interessante é que o amor de Deus sobrepuja o amor materno, de forma que, se você foi abandonado por sua legítima mãe Ele o recolherá, ou se ela te esqueceu, Deus promete que jamais te esquecerá. E se acaso te rejeitou e não te perdoa, Ele afirma que o que vem a Ele não será lançado fora.
Meu interesse não é de refutar a figura paterna de Deus, antes, ampliá-la, ou seja, poder mostrar que Deus é Pai para quem precisa dele como tal , mas também é Mãe para quem necessita de seus atributos maternais.
Enfim, visto que Deus é espírito, isto é, um ser desprovido de sexo, e mesmo assim concordamos com a frase metafórica: "Deus é Pai", então em meio as inúmeras coincidências entre o amor de Deus e o amor de mãe, atrevo-me a afirmar:
"Deus é Mãe! E que Mãe!"


Leila Castanha
2006


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