Muitos se sentem extremamente
inúteis num mundo cercado por jogadores de futebol talentosos, atrizes e atores
de primeira categoria, modelos exuberantes, cujo retrato é disputado a milhões,
cientistas respeitados, e tantos outros talentos que nos fazem sentir um
pontinho minúsculo numa grande página escrita.
Quantos dariam tudo por
uns míseros cinco minutos de fama. Daí o grande sucesso dos realities shows,
que expõem a privacidade dos participantes ao invés de mostrar seus verdadeiros
talentos. Mas, para acalantar o sentimento de invisibilidade, para alguns, tudo
é válido!
O ser humano nasceu com a
necessidade de agrupar-se, de viver em sociedade, e com esta carência natural,
também existe dentre de nós um vazio que só é preenchido quando nos sentimos
aceitos.
A tensão do primeiro dia
de aula ou do primeiro emprego explica bem o medo que sentimos da não
aceitação. Porém, para o ser humano sentir-se aceito não basta apenas fazer
parte de um grupo ou de uma sociedade, mas vai muito além disso: ele precisa
sentir-se valorizado como pessoa.
E em busca dessa aceitação
pessoal temos as faculdades cheias de corações vazios buscando a conquista
intelectual ou profissional como meio para obter o reconhecimento almejado. Muitos buscam no diploma, não o
preenchimento de seu intelecto na obtenção de novos conhecimentos, mas desejam
simplesmente preencher seus corações com elogios e com gestos de simpatia
daqueles que os rodeiam.
Há os que procuram
formar-se em cursos acadêmicos nos quais não se identificam, tendo em vista o
respeito que a formação lhes garantirá ao lhes dar o direito de um nome
idealizado de “doutor”, “engenheiro”, “mestre”, ou qualquer outra nomenclatura
que para eles servirá de antídoto para o veneno que lhes corroem, cujo nome é
“anonimato”.
Não sabem estes que cada
pessoa já carrega dentro de si um talento ímpar. Que nenhum famoso pode
adquirir suas habilidades, por mais talentosos que possam ser, porque a vida é
um dom dado por Deus para
cada um de nós de forma exclusiva. Ninguém é igual a ninguém, e por mais que se
pareçam ainda há divergência de opiniões e gostos pessoais.
O ser humano é um ser
único, embora as vezes eu fique confusa pelo fato de que, apesar de
querermos ser reparados ainda temos a tendência de seguir a opinião comum para
sermos notados. Como nos sobressairemos sendo iguais a todos?
A luz só é notada porque é
diferente das trevas. O fogo se não se misturar à água. A água só se faz
desejada para o refrigério, se não estiver alterada pelo mormaço do fogo. A
chuva só é bem-vinda onde não há chão alagado. O calor e a quentura do sol só é
motivo de prazer, onde o solo não está morrendo pela seca. O sal só é
valorizado se ao misturar-se à comida fizer diferença no sabor. O conhecimento
só faz sentido, quando traz novidade, e assim por diante.
Há anos os negros
americanos sofriam preconceito racial, e certamente nenhum deles concordava com
esta humilhação, porém, só foi possível sua libertação quando alguns resolveram
agir diferente dos demais, que apenas lamentavam-se, e começaram a lutar contra a
discriminação racial, como
é o caso de Martin Luter King. Por ser diferente, esse homem fez a diferença e
ficou na história.
Nelson Mandela ficou conhecido e consequentemente reconhecido por
lutar contra o apartheid (os negros eram separados dos brancos) na África do
Sul, e devido ao seu ato diferenciado tornou-se o primeiro presidente negro
daquela nação pondo fim ao regime segregacionista.
O ex-presidente Lula, conseguiu galgar a presidência não por
ser um operário, mas a propaganda que lhe levou ao poder foi a exploração de
sua imagem como uma pessoa que
fez a diferença ao tomar a decisão de lutar pela defesa dos trabalhadores. A princesa Isabel, independente de
seus motivos reias, alcançou fama não pela sua posição de realeza, mas pela sua
atitude de assinar a lei áurea, que foi totalmente antagônica a de seus
antecessores.
Jesus Cristo não foi
reconhecido por ter sido um grande religioso, mas porque agia diferente dos
religiosos de sua época ao mostrar-lhes que era possível viver o que se prega.
E tantos outros personagens da história, dos tempos remotos ou dos hodiernos,
só alcançaram o reconhecimento porque foram autênticos, ao invés de xerocarem
as atitudes das pessoas de seu meio.
Ser talentoso é ter alguma
habilidade especial, e isto todo ser humano tem: Uns cantam extramente bem,
outros são exímios músicos, outros têm grande facilidade para ensinar,
outros são excelentes malabaristas, outros possuem grande facilidade
de contrair e fazer amizades, outros têm extrema paciência para ouvir, alguns
são extrovertidos e tem habilidade de enturmar os mais tímidos, outros
são inesquecíveis pelo talento na cozinha, outros são habilidosos com as
palavras, há os que têm grande proficiência na arte de aconselhar, de contar
piadas, de fazer as pessoas rirem com um simples gesto, enfim, se observarmos bem, todos temos
talentos especiais.
Sim, são “especiais”,
porque nem todos possuem os mesmos dons e ninguém é tão privilegiado a ponto de
ter todos para si.
É por isso que devemos nos
valorizar: temos talentos que são só nossos, porque ninguém terá o nosso
jeitinho de trabalhá-lo. Cada professor tem sua maneira de ensinar, cada
pregador tem seu jeito de aplicar o sermão, cada escritor tem seu modo de lidar
com as palavras, os cantores podem cantar as mesmas músicas, mas cada um tem o
seu timbre de voz, cada paisagista tem seu toque pessoal e assim por diante. Podem-se
ter talentos iguais, mas as habilidades com que usamos nossos talentos são
totalmente particulares.
Em suma: Os iguais podem
até sobressair-se em número, mas os necessários são aqueles que fazem a
diferença! Os iguais podem ter seus cinco minutos de fama, mas o reconhecimento
é privilégio dos que não tem medo de serem autênticos!
Você pode até querer
desejar algum talento que não tenha, todavia, jamais despreze o que você tem.
Você é um ser único, e o que você pode fazer ninguém conseguirá fazê-lo, porque
por mais que alguém trabalhe ainda faltará você fazendo a sua parte.
Adquira mais
conhecimento para aperfeiçoar seu dom, mas jamais use de artifícios para ser
mais um na multidão. Seja você mesmo, cada vez mais melhorado, porque se o ser
humano fosse para ser previsível e xerocado, Deus nos teria feito robôs.
Todavia, ele nos fez tão originais que ninguém possui o mesmo DNA.
Você é você e ninguém pode tomar o seu lugar, e o seu talento é tão seu como
suas impressões digitais deixam claro que você é um dentre milhares.
Leila Castanha
02/2013
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