quinta-feira, 11 de abril de 2013

DESRESPEITO



Ruas cheias de corpos vivos seguem a cotoveladas
Um tropicão, uma queda, e não há quem faça nada!
Do outro lado da rua, um ancião tenta a ventura
De sambar por entre carros sem chegar à sepultura

Buzinas alto ressoam e a multidão azoada,
Qual bando de animais vai dispersa rumo ao nada
O oco de suas vidas a preencher num oficio
Cujo trabalho escraviza, cegando o prazer qual vício.

Corpos se vê que, dispersos, no interior de algum bar
Enchem o peito de álcool pra vida não ver passar
Em copo o veneno bebe, das dores, ganho das lidas,
Pra ver findarem-se logo suas tão míseras vidas

Olhos deitam sobre o ébrio, desgraçado, vagabundo,
Que desconta na cachaça todo o peso desse mundo
Bebendo as indiferenças, orgulhos e avarezas,
Dos que sobre si lançaram um mar de indelicadezas

Pedinte, sujo, inóspito lugar acha para casa
À procura de esperanças, como pássaro sem asa
Ser que a própria vivencia lhe é pior que o aborto
Cuja vida lhe condena a ser vivo, estando morto

Idoso ancião, deveras, bem mais dos cinquenta ter
Com um jovem à sua nuca, furioso a lhe bater
Se bom cidadão é este, não posso sequer julga-lo
Mas, monstruoso, por certo, o jovem a desrespeita-lo

Não digo, respeito ao homem, cujo ódio lhe inflama
Porém, respeito aos anos, cujas cãs a razão clama
Pois deste, a força antiga, o tempo veio rouba-la
Não cabe ao viril sujeito com as suas compara-la

No ônibus, pensamentos a rondar janela afora
Dentro dele o vil casal, bota tudo para fora
Seu vigor da juventude, aquecido pelo atrito
Esvaem-se de prazer, cada lombada, um grito

Depravados, grosso modo, de instintos animal
Cuja lascívia enrubesce o fino amor sensual
Passageiros, quais reféns, do vulgar enlaçamento
Tentam limpar suas mentes das imagens do momento

Não posso continuar com narração tão sofrível
Pois sou dos anos passados, não deste tempo horrível
Época que o ser humano, visto, então, qual sujeito,
Prezava a dignidade, tratando-se com  respeito

Mas hoje com dor na alma, lágrimas viram palavra
Que no papel, qual semente, meu triste protesto lavra
Pra que em tempo futuro, colha eu um bem maior,
Meus netos, desabrochando, num mundo muito melhor!

Leila Castanha
04/2013






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