terça-feira, 30 de abril de 2013

LOUCURAS DO AMOR





Um objeto sobre o sofá da sala, do tipo que já estou acostumada a ver. Um livro. Comum como qualquer outro que já vi. Olho para ele e fixo o meu olhar para entender melhor o que vejo. Sim, é um livro. Não, não é apenas um livro. É o livro. O livro dele. Aquele objeto que passou por aquelas mãos grandes e másculas, e que por vezes foi carregado repousando sobre o seu peito.
Sim, aquele peito no qual eu desejava me reclinar. Olho para os lados. Ouço passos e recuo. Ainda não é a hora certa! Aguço os ouvidos como um felino que se protege pelo poder de sua audição. Certifico-me de que ninguém se dirige para aquele recinto. Estou só! Somente eu e ele: Aquele precioso livro que mexe com cada partícula do meu corpo e faz meus músculos se retesarem pela adrenalina que me causa.
Vagarosamente toco em sua capa. Sinto-me tonta de prazer! Naquele momento não me vejo  pegando em um simples objeto de papel, mas toco nas mãos que dantes o tocaram. Encosto meus dedos trêmulos sobre sua superfície como se estivessem em contato com o peito que lhe serviram de suporte. Meu livro, meu santo mediador! Desejo usá-lo como ponte entre mim e meu amor secreto.
 Abro suas páginas como se tivesse praticando os maiores dos pecados. Estou sentindo o cheiro do perfume dele. A tentação é grande de encostá-lo sobre rosto, como se fossem suas mãos. Medo de ser pega. Não posso passar esse mico se alguém resolver entrar na sala nesta dita hora. Meu corpo treme e sinto o nervosismo me possuir. Resolvo. Com as duas mãos o seguro firmemente e começo a levá-lo em contato com meu rosto. Ouço passos e reajo pelo susto jogando o livro no sofá onde o peguei.
É ele. Não o livro, mas o dono dele e do meu coração. Desculpa-se pela demora e senta-se ao lado do objeto, pegando-o ao colo. Sento-me ao seu lado, mantendo uma distancia respeitosa: Sou moça de família!
 Ele fala tudo e eu não ouço nada. Meus olhos estão presos ao livro. Não, às suas mãos que seguram o livro. Não, ao seu braço que estão presos às mãos que seguram o livro. Aos poucos, subo os olhos e fixo, hipnotizada, aquele tórax desejado.
Sem entender nada do que ele diz, mas compreendendo bem o que sinto, peço a gentileza de emprestar-me o objeto. Ele estende-o com uma das mãos para que eu o pegue. Eu apanho o livro. Não, atrapalho-me e pego a mão dele que segura o livro. Sinto os meus dedos gelados de pavor. Escorrego-os sobre os dele num gesto rápido e nervoso. Agora peguei. Não, ele pegou minha mão que já pegara o livro. Olhamo-nos, nos medimos com os olhos, pensamos horas em fração de segundos.
O livro... Não sei onde parei a historia. Desculpe-me, não consigo me lembrar de nada.
 Ah, agora estou  com ele!  Não com o livro, mas com o dono dele e do meu coração. Seus braços me recobrem e me acho debruçada sobre o seu peito. Quanto tempo eu senti inveja daquele livro! Mas agora, finalmente, chegou a minha vez!
Alguns segundos depois, que me pareceram horas, delicadamente ele me afasta de seu corpo. Ajeita-me no sofá onde fico trêmula pelo impacto da emoção. Suas mãos  acariciam meus cabelos enquanto sussurra o meu nome. Meus olhos, dantes fechados  apreciando o sabor de suas carícias, abrem-se vagarosamente. Fito-o nos olhos e vejo aquele rosto familiar.
Não o rosto dele, mas de uma mulher que se põe a minha frente. Levanto-me de sobressalto e protesto enraivecida:
- Ah, mãe, isso é hora de me acordar?

Leila Castanha
30/04/2013




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