Acidente na R. Abílio César - Jd. Soraia |
Um estrondo forte corta a madrugada fria
E assombra os que em casa dormem em plena paz
Num sobressalto a mãe se ergue de seu leito
Sem entender se o que ouvira era veraz
Em pé ao lado do seu leito em grande espanto
Olhos crescidos, olhar atônito em pavor
Jaz a mocinha que gerara há treze anos
Corpo em tremores, ante aos gritos de terror
Ouviram isso? Disse em voz espavorida
Acho que alguém está gritando por socorro!
No exterior ouve-se o grito de uma vítima:
“Meu sangue jorra, me acuda senão morro!”
O pai desperto pelo horror na voz da jovem
Meio dormindo ouve ao longe o vil pedido
Alguém parece estar ferido e pede ajuda
“Será amigo o sofredor ou conhecido?”
Todo o rumor parece estar à sua porta
Do muro vê a luz do carro policial
Conjecturas mil lhe passam pela mente
“Uma batida, queda, tiro ou outro mal?”
Sai de seu lar, expõe-se a rua a ver o caso
E quase a frente de sua casa o elemento
Clama à policia que apresse em socorrê-lo
Para que a vida não se vá em seu tormento
Os comentários se elucidam a puro gases
Uns mil “achismos” e versões das variadas!
Um carro jaz encapotado e destruído
Com suas rodas para o lado levantadas
Foi atingido, diziam vozes transeuntes.
Perseguição policial, outros diziam
Muitas latinhas de cerveja espalhadas
Em meio a rua e na calçada elas jaziam .
Da filha trêmula que despertara com o terror
Enquanto o pai com sua câmera registra
O movimento que em sua rua se instalou
Que foi que houve? Quem quer falar? Roga a repórter
O pai aceita e a versão de outros conta
Não viu o fato, mas foi fiel ao que ouvira
E a repórter registra tudo e a historia monta
Veio dali, disse a mulher que agora fala
Eu vi, sustenta sua versão enquanto explica
Não foi assim, pensa o pai que a tudo ouvia
E a noticia registrada, assim fica
Ligo a Tv e a reportagem está na mídia
Vários canais como urubus rondam a nova
E o sujeito é socorrido pela ambulância
Com medo imenso de o seu pé estar na cova
Mas se o “pé” dele o preocupa a todo instante
nem sequer lembra que o de outros ameaçara
Em quantas vidas que botou perto da morte
Com aquela ação fora da lei que instaurara
Quantas mulheres, mães e filhas pôs em risco,
O meliante que implora pela vida!
Trabalhadores que em busca de viverem
Não teve a vida por um fio interrompida
Carro tombado de um sujeito vitimado
E automóvel atingido inda parado
Loja roubada sem dezenas de latinas
Que pesarão no bolso do que foi roubado
Fruto de furto ou talvez um latrocínio
Vejo o outro, estacionado e destruído
Enquanto o dono o examina sem fascínio.
Não sinto mais aquela pena que sentira
Ao escutar a voz do homem suplicante
E acho pouco todo medo que o assombra
Ao ver o sangue esvair-se a todo instante
A branda lei em breve o perdoará
Enquanto o dono da adega chora as perdas
E o do carro a duras penas se erguerá
Quem é a vítima? Pergunto eu indignada
O “pobre” homem ensanguentado a suplicar
Ou o coitado cuja adega, arrombada
Vai ter que erguer-se e do zero começar
Ou o sujeito cujo carro atingido
Fez-se sucata e perdeu-se por completo
Olhar tristonho e expressão de desalento
Que de tristeza o coração se fez repleto
Por ver seu pouco patrimônio lhe ser tirado
Sem reembolso nem punição bem merecida
Olhar perdido, sem reação, anos suados!
Enquanto a causa de sua dor é socorrida!
Quem é a vitima? Pergunto eu, Quem é a vítima?
Leila Castanha
05/2013
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