quarta-feira, 1 de maio de 2013

VÍTIMA!



Acidente na R. Abílio César -  Jd. Soraia

Um estrondo forte corta a madrugada fria

E assombra os que em casa dormem em plena paz

Num sobressalto a mãe se ergue de seu leito

Sem entender se o que ouvira era veraz


Em pé ao lado do seu leito em grande espanto

Olhos crescidos, olhar atônito em pavor

Jaz a mocinha que gerara há treze anos

Corpo em tremores, ante aos gritos de terror


Ouviram isso? Disse em voz  espavorida

Acho que alguém está gritando por socorro!

No exterior ouve-se o grito de uma vítima:

“Meu sangue jorra, me acuda senão morro!”


O pai desperto pelo horror na voz da jovem

Meio dormindo ouve ao longe o vil pedido

Alguém parece estar ferido e pede ajuda

“Será amigo o sofredor ou conhecido?”


Todo o rumor parece estar à sua porta

Do muro vê a luz do carro policial

Conjecturas mil lhe passam pela mente

“Uma batida, queda, tiro ou outro mal?”


Sai de seu lar, expõe-se a rua a ver o caso

E quase a frente de sua casa o elemento

Clama à policia que apresse em socorrê-lo

Para que a vida não se vá em seu tormento


Os comentários se elucidam a puro gases

Uns mil “achismos” e versões das variadas!

Um carro jaz encapotado e destruído

Com suas rodas para o lado levantadas


Foi atingido, diziam vozes transeuntes.

Perseguição policial, outros diziam

Muitas latinhas de cerveja espalhadas

Em meio a rua e na calçada elas jaziam .


 O helicóptero sobrevoa a residência

Da filha trêmula que despertara com o terror

Enquanto o pai com sua câmera registra

O movimento que em sua rua se instalou


Que foi que houve? Quem quer falar? Roga a repórter

O pai aceita e a versão de outros conta

Não viu o fato, mas foi fiel ao que ouvira

E a repórter registra tudo e a historia monta


Veio dali, disse a mulher que agora fala

Eu vi, sustenta sua versão enquanto explica

Não foi assim, pensa o pai que a tudo ouvia

E a noticia registrada, assim fica


Ligo a Tv e a reportagem está na mídia

Vários canais como urubus rondam a nova

E o sujeito é socorrido pela ambulância

Com medo imenso de o seu pé estar na cova


Mas se o “pé” dele o preocupa a todo instante

nem sequer lembra que o de outros ameaçara

Em quantas vidas que botou perto da morte

Com aquela ação fora da lei que instaurara


Quantas mulheres, mães e filhas pôs em risco,

O meliante que implora pela vida!

Trabalhadores que em busca de viverem

Não teve a vida por um fio interrompida


Carro tombado de um sujeito vitimado

E automóvel atingido inda parado

Loja roubada sem dezenas de latinas

Que pesarão no bolso do que foi roubado


 Vejo o carro que o pai fotografara

Fruto de furto ou talvez um latrocínio

Vejo o outro, estacionado e destruído

Enquanto o dono o examina sem fascínio.


Não sinto mais aquela pena que sentira

Ao escutar a voz do homem suplicante

E acho pouco todo medo que o assombra

Ao ver o sangue esvair-se a todo instante


 Se é menor bem pouco tempo será recluso

A branda lei em breve o perdoará

Enquanto o dono da adega chora as perdas

E o do carro a duras penas se erguerá


Quem é a vítima? Pergunto eu indignada

O “pobre” homem ensanguentado a suplicar

Ou o coitado cuja adega, arrombada

Vai ter que erguer-se e do zero começar

Ou o sujeito cujo carro atingido

Fez-se sucata e perdeu-se por completo

Olhar tristonho e expressão de desalento

Que de tristeza o coração se fez repleto


Por ver seu pouco patrimônio lhe ser tirado

Sem reembolso nem punição bem merecida

Olhar perdido, sem reação, anos suados!

Enquanto a causa de sua dor é socorrida!


Quem é a vitima? Pergunto eu, Quem é a vítima?
Leila Castanha
05/2013














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