Meu nome é Pérola. Moro dentro de uma casca a qual chamam concha. Habito no fundo do oceano. Venho de uma família que já foi enorme, mas a usura dos homens, em alguns países, já chegou a nos levar a beira da extinção. Tenho medo deles!
Sei que algum dia as ondas da
vida poderão me jogar à praia onde ficarei á mercê destes animais que se dizem
racionais. Não temo os bichos que tem cara de bicho, mas aqueles que têm cara
de gente.
Tenho medo de cair nas mãos
ignorantes de um humano, que sem saber o meu valor, me jogará para cá e para lá
e depois me abandonará na fofa areia, onde seus próprios pés pisarão em mim e me
enterrarão nas profundezas do nada, onde nunca mais poderei encantar o mundo.
Mas também tenho medo dos que conhecem a minha valia, porque o ser humano costuma
destruir o que acha belo! Veja a natureza! O verde das matas é diariamente
apagado pelo cinza das queimadas! Árvores são derrubadas para fazerem suas
casas em meio à natureza. Matam os animais que mais apreciam para exibi-los em
suas salas de ostentação. O homem é um ser contraditório e por isso os temo
muito.
Tenho muitas parentas, que
foram capturadas pelos homens. Ao se apossarem de suas raridades
arrancaram-lhes de sobre elas suas conchas e as expuseram diante do mundo. Exibiam-nas
como pérolas, sem ao menos se darem conta que sem sua proteção natural e sem a
companhia do verme com quem coabitavam desde seu nascimento, já não são mais
pérolas. Buscam sua essência, no entanto, lhes tiram o que lhes é natural.
Admiram sua beleza natural e levam-nas para mãos de artesãos que lhe darão uma
camada de tinta para que fiquem mais belas.
Os homens nos expõem diante do mundo,
mercantilizam-nos e até se matam por nossa causa, mas não percebem que após seu
trabalho para “melhorar-nos” tiram a nossa autenticidade, e possuem apenas
parte do que éramos. Não percebem que, após suas interferências, pintando-nos,
mudando a nossa natureza na intenção de “melhorar-nos”, acabam com o que dantes
procuravam, matando nossa essência e expondo, apenas a nossa sombra. Já não somos
mais pérolas, mas correntes de pérola, anéis de pérola, brincos de pérola,
sapatos de pérola etc. Não somos mais as estrelas, mas, nos transformamos
apenas em “parte” de um todo.
Quero continuar sendo eu,
com toda a minha essência. Não me oponho a enfeitar o mundo com a minha
raridade, mas quero fazê-lo sendo eu mesma e não o que sobrou de mim. De que me
adianta receber os holofotes, se sei que lá no fundo sou apenas um produto idealizado
e “melhorado” pela mídia? Por que se encantam com o meu dom, se me querem para
transformarem-me em algo, que pode ser tudo, menos eu mesma?
Por que pedir as perolas
submersa no oceano da genialidade que mudem suas formas para igualarem-se a formas
comuns, se já lhe aplaudem por serem raridades? Por que não ensinar o comum a se
adequar a autenticidade ao invés de engana-los, dando-lhes uma pérola destruída
e maquiada?
Por que arrancar a concha de
seu suporte, cuja valoração, é perseguida e compreendida por outros, que dedicam
à vida a juntá-las?
Um homem sem valores e vícios
não é o mesmo homem. Quem de nós não temos nossos vermezinhos? Quem nesse mundo
não possui seus defeitos e fraquezas? Por que precisam mudar a realidade, se não
há verdade onde não há autenticidade?
Não quero que reduzam as
profundezas de minhas inspirações naturais em um mundinho raso, cuja ideologia
concerne em materialismo. Prefiro continuar nas profundezas do anonimato, sendo
observada pelos poucos que conhecem meu dom e sabem valoriza-lo a subir para as margens da glória e ser capturada
por homens que me exporão à sociedade, maquiada e transformada em uma joia falsa.
Aí já não serei eu a estrela
inspiradora, mas os artesãos que se inspiraram em minha inspiração natural e a
transformaram em mentira pública.
Leila Castanha
05/2013
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