Até pouco tempo atrás,
saudade para mim era um sentimento abstrato, do tipo que somente quem a sente
pode vislumbrar sua realidade. Mas, hoje, a vejo de forma diferente:
Saudade para mim tem
rosto, forma, características e nome. Às vezes ela aparece como homem, às vezes
como mulher. Todavia, hoje, sua forma é masculina.
E junto à imagem que
aparece em minhas lembranças, posso ouvir sua voz faceira e descontraída
gritando o nome de amigos que passam pela rua, com seu jeito brincalhão e sua
aura de alegria que contagiava a muitos.
Sua presença é tão clara
em meus pensamentos que chego a sorrir sob a lembrança de suas doces
gargalhadas!
Vejo-o, sinto-o, percebo-o
em cada detalhe. São várias as formas de visualiza-lo e senti-lo. Apego-me a
todas para esquecer sua partida e apreciar sua presença invisível.
E os detalhes são
riquíssimos e ajudam-me nessa façanha. A memória é sempre ativada e as
lembranças agradáveis brotam como flores de esperança.
Recordo-me, de
peculiaridades, como se pudesse vê-las: Sua testa franzida, num esforço durante
a leitura a fim de apreender seu significado; A mão direita servindo de encosto
ao queixo enquanto os olhos fechados indicam concentração no culto; O semblante
severo diante de uma situação de discordância; um sorriso franco sempre ao
encontrar algum conhecido; Os passos bambos de pernas cansadas da labuta diária
e do corre-corre em busca de resgatar almas preciosas; A agenda, amiga
inseparável e objeto que denunciava sua responsabilidade diante de suas
obrigações; E a Santa Palavra, carregada junto ao peito e diariamente ingerida
e vomitada aos ouvidos dos que, como pássaros órfãos, recebiam no bico o
alimento já mastigado.
Não posso mudar os fatos,
nem duvidar da vontade divina. Todos nós que entramos neste mundo, um dia,
haveremos de sair dele. Por isso, louvo a Deus pelo conforto em meio a dor da
perda. Pois nesse ínterim de dissabor, consciente de que neste mundo não mais
poderei sentir o meu pai lado a lado, aprendi a gozar sua presença em forma de
saudade.
(Laerço dos Santos-
13-09-1944 - 12-06-2012)
Leila Castanha
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