Estou experimentando um
misto de sentimentos. Sinto-me extremamente
feliz por gozar a presença de entes queridos, todavia, suas presenças me
reportam a ausências significativas em nossas vidas. Tenho a gostosa sensação de reviver
felizes momentos remotos e ao mesmo tempo, sinto um aperto doído no peito pela
constatação de que nem tudo mudou para melhor. São marcas que percebo em nossos
rostos e em nossas almas que não são bem vindas. Doenças que tiram o prazer da
companhia, lembranças de tempos passados, dos quais nunca mais vamos poder nos
apoderar para consertarmos algo que por algum motivo saiu errado, e alterou de
forma ruim o nosso presente. Tempos não aproveitados ou mal usados, amizades
perdidas ou não efetuadas, sorrisos negados ou mal distribuídos, confiança
depositada em pessoas erradas e descrédito em alguém que descobrimos mais tarde
ser merecedor de nossa amizade.
Sinto um grande bem estar
por todos os nossos objetivos alcançados e até pelas histórias que dantes nos
fez chorar, mas que hoje zombamos delas com deliciosas gargalhadas. Os
trejeitos antigos dos nossos entes próximos surpreende-nos a memória e voltamos
a rir uns dos outros, denunciando o quanto observadores somos em relação a quem
nos interessa nesta vida.
Mas, a tristeza me sobrevém
ao perceber olhares folgazes, de repente pararem estáticos e formarem na testa
tensa algumas rugas de preocupação. Não são marcas criadas no improviso do
momento, mas previamente desenhadas com o passar dos anos e o aumento do peso da
responsabilidade que a vida nos impôs. Rugas e marcas que teimam a acentuar-se
não obstante nosso esforço em expurga-las. Coisas dos anos, mas também marcas
da vida.
Estou feliz e triste ao
mesmo tempo. Feliz por ver que muitos estão bem: bem casados, bem amados, bem dispostos com a vida, bem de
aparência, rostos joviais e bem conservados, a despeito dos acúmulos dos dias e
das dívidas diárias. Estou triste por saber que ninguém está totalmente bem de verdade, mas todos vivemos sob constante ameaças:
Não há bom casamento que vá de vento em popa sem a devida providência
monetária no decorrer dos anos de comum vivência; não há amor, de espécie alguma,
que seja forte o bastante quando falta o necessário que a vida exige, seja dinheiro,
saúde, trabalho, ou qualquer outra coisa; A aparência, até ela se
deteriora quando nossas mentes entram em parafuso diante das “falturas”, que, somente quando supridas, nos fazem iluminar o rosto e desenhar nele um belo
sorriso. A tristeza ronda a casa onde não há a dignidade em todos os âmbitos da
vida, e diante das prolongadas situações de carência o bolso se esvazia, a
mente se sobrecarrega, a alma se seca, o rosto é castigado e o corpo se definha.
Estou feliz porque estamos
todos bem, na medida do possível, porém, trago dentro de mim uma grande parcela
de tristeza, por saber que vivemos num país rico e abençoado por Deus, e seria
perfeitamente possível que a medida de nosso bem estar fosse muitissimamente
melhor: cada um com seu digno salário, tendo a saúde tratada com primazia, com condições de oferecer lazer a sua família, e todos nós VIVENDO a vida, ao invés
de apenas continuarmos em algum lugar desse Brasil, pagando impostos para
termos direito, apenas, de continuarmos EXISTINDO.
Vejo por trás de belas
aparências, um histórico de sofrível enfermidade, que graças a força interior
de quem a padece, a aparência saudável lhe salva do justo julgamento. Observo no rosto sereno e alegre a aparência
tranquila de um coração que geme de saudade da sua cara metade. Mentes fortes e
sãs que no afã de suas aflições nos trazem o bem estar de suas saudáveis
companhias. Por isso, não posso me dar ao luxo de ser eu mesma e prossigo
sorrindo sem ter sorriso e transformando meus dissabores em piada e minhas
desilusões em brincadeiras, onde cada qual deve fingir que não passa de
histórias da carochinha.
Estou aparentemente bem!
Pelo menos nisso não decepcionei ninguém: Também sei fingir, sou boa atriz,
excelente palhaço que faz a plateia se embolar de rir enquanto minha alma geme
de tristeza.
Leila Castanha
06/2013
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