Estou em festa! Saio da
minha residência em direção à casa de um de meus irmãos. O objetivo é triplo:
Rever duas pessoas queridas que há muito não vejo, conhecer meu lindo sobrinho,
e também visitar o dono da improvisada pousada, que faz parte dos que tenho em
apreço.
Após um revigorante banho,
eu e o casal de filhos nos apressamos em partir. O dia está frio e nublado, e
eu, ainda, sou obrigada a ir à faculdade prestar a última avaliação. Apesar do
frio e do cansaço que me incomoda e o pouco tempo que me resta para curtir–lhes
a companhia, deixo-me levar pela ansiedade em ver aqueles que, embora próximos
pelo sangue, vivem distante pelo espaço que nos separa.
Chego ao portão da casa já
tantas vezes por mim visitada e a ansiedade se avoluma. Sei como são seus
rostos, pois as muitas fotografias enviadas já deram conta dessa parte da minha
curiosidade. A voz de ambas as visitas ainda consigo ouvi-las, pois ao
falar-lhes ao celular era o mesmo que estarmos conversando presencialmente.
Ainda assim o coração se desassossega. E o sobrinho? Há de gostar-me como tia?
Hão de se entender os primos que mal se conhecem? Enfim, a cabeça não para de
maquinar mil suposições.
O portão se abre e eu,
juntamente com os meus filhos, somos recebidos por um de meus irmãos. Descemos
as escadas que levam à porta, conversando algo que não consigo me lembrar. No
olhar das crianças, um misto de suspense e ansiedade perfeitamente disfarçados
por sorrisos tímidos. À frente da porta sou recepcionada pela primeira
visitante, que há tempo não gozo de sua presença. Um ar tenso de ansiedade
contida toma conta de seu semblante que vem carregado da visível canseira da
viagem. Não reconheço sua voz. Soa-me estranho, apesar de ouvi-la quase todos
os dias ao telefone. Demo-nos um caloroso abraço que foi pequeno em vista dos
anos de afastamento. Dentro da casa encontro dois braços abertos onde me
aconchego num gostoso abraço e sou aquecida pelo beijo materno. Os irmãos
presentes no recinto sorriem. É sublimemente delicioso ter mãe!
Deixo-me ficar por uns
instantes a receber elogios: mães amam elogiar a prole! E em segundos me dirijo
a admirar aquela de quem tanto almejei a presença: Minha irmã mais velha.
Melhor, a primogênita, a
que nasceu antes de mim. “Mais velha”, por quê? Reflito indignada, “Mais velha”
do que eu? Como assim? Não sou velha, ora bolas! Que falta de criatividade de
quem inventou essa maneira de se retratar aos irmãos que nos antecederam!
Brincadeiras a parte,
voltemos à narrativa. Os primos logo se entrosam intermediados pelo gosto em
comum: O Playstation.
Minha mãe está
confortavelmente pilotando o fogão, o que não perde para piloto algum, enquanto
minha irmã tenta colocar a casa em ordem prevendo visitas posteriores, de algum
parente. Dito e feito! Aos poucos a casa foi enchendo-se de visitantes para
recepcionar as visitas importadas da capital das Alagoas.
Conversamos pouco, mas foi
bom! A macaxeira feita A La mãe, acompanhada de um charque (jabá) nordestino,
trouxe-me a lembrança da minha infância. Cada prato servido pela nossa mãe
tinha sabor único, não importava quão simples fosse!
Fui à faculdade contra a
minha vontade e ao sair entraram mais duas visitas que vieram visitar as recém-chegadas.
Após a faculdade,
apropriei-me da desculpa de ter deixado meu filho na casa com as visitas, e
voltei à companhia delas, saindo de lá já em altas horas. Claro que retornei
outras vezes, e tentei aproveitar ao máximo o prazer de suas passagens por São
Paulo e em nossas vidas.
Ainda não conheço meu
cunhado, mas em breve dias chegará. Será gratificante tê-los ao nosso redor e
conhecer àquele que há quinze anos escolheu a companhia e o coração de minha
irmã e que, com ela, nos presenteou com um lindo sobrinho a quem amei conhecer.
Porém, o problema das
viagens é que as visitas, assim como vem se vão. E em breve,
toda essa farra se acabará e cá ficaremos tocando nossa vida programada, e lá
estarão os que retornarem recomeçando de onde pararam. Um vazio oco tomará
lugar das conversas, risadas e até das lágrimas que porventura possam surgir. A
saudade minará todos os cantinhos dos lugares por onde passaram e explodirá nos
corações que se atreverem a
pisar neles.
O fogão falará do charque
com macaxeira, o prato azul nos lembrará de algum guloso que o encheu até a
borda com a boa comida caseira, o varal balançará saudade em forma de panos que
a irmã lavou e cuidadosamente estendeu a aquecer-se, do sofá ecoará as
gargalhadas e risadas diversas das visitas que vinham e iam, e que iam e
vinham, sem parar.
O cantinho onde a mala
ficou escondida murmurará sua solidão. O cheiro do perfume já apagado do
recinto será ativado na memória toda vez que se adentrar ao banheiro. O
retrato, que dantes retratava uma única imagem, reproduzirá dois rostos
saudosos: O da figura
retratada na tela, e o da imagem dos olhos marejados que o admirava todos os
dias.
As peças emprestadas para
ajudar a espantar o frio paulista, gritará aos ouvidos de seus donos o agudo
grito da saudade. As indumentárias serão as mesmas, mas o corpo a usá-las, por
um bom tempo, serão as fantasmagóricas imagens das recordações.
Porém, prevenidos como
somos, não perderemos esses momentos dourados. Registramos, e continuaremos a
registrar, toda essa história num flash, e até gravamos, e gravaremos ainda, os
breves momentos que se farão eternos a cada rebobinada do vídeo.
E, em forma de fotos ou
vídeos, espantaremos as saudades, vendo, ouvindo, lembrando e curtindo todos os
pequenos e grandes instantes que passamos juntos daquelas que são a parcela e a
extensão da grande e feliz família Castanha Santos.
Leila
Castanha
06/2013
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