sexta-feira, 28 de junho de 2013

ALEGRIA DA CHEGADA



Estou em festa! Saio da minha residência em direção à casa de um de meus irmãos. O objetivo é triplo: Rever duas pessoas queridas que há muito não vejo, conhecer meu lindo sobrinho, e também visitar o dono da improvisada pousada, que faz parte dos que tenho em apreço.
Após um revigorante banho, eu e o casal de filhos nos apressamos em partir. O dia está frio e nublado, e eu, ainda, sou obrigada a ir à faculdade prestar a última avaliação. Apesar do frio e do cansaço que me incomoda e o pouco tempo que me resta para curtir–lhes a companhia, deixo-me levar pela ansiedade em ver aqueles que, embora próximos pelo sangue, vivem distante pelo espaço que nos separa.
Chego ao portão da casa já tantas vezes por mim visitada e a ansiedade se avoluma. Sei como são seus rostos, pois as muitas fotografias enviadas já deram conta dessa parte da minha curiosidade. A voz de ambas as visitas ainda consigo ouvi-las, pois ao falar-lhes ao celular era o mesmo que estarmos conversando presencialmente. Ainda assim o coração se desassossega. E o sobrinho? Há de gostar-me como tia? Hão de se entender os primos que mal se conhecem? Enfim, a cabeça não para de maquinar mil suposições.
O portão se abre e eu, juntamente com os meus filhos, somos recebidos por um de meus irmãos. Descemos as escadas que levam à porta, conversando algo que não consigo me lembrar. No olhar das crianças, um misto de suspense e ansiedade perfeitamente disfarçados por sorrisos tímidos. À frente da porta sou recepcionada pela primeira visitante, que há tempo não gozo de sua presença. Um ar tenso de ansiedade contida toma conta de seu semblante que vem carregado da visível canseira da viagem. Não reconheço sua voz. Soa-me estranho, apesar de ouvi-la quase todos os dias ao telefone. Demo-nos um caloroso abraço que foi pequeno em vista dos anos de afastamento. Dentro da casa encontro dois braços abertos onde me aconchego num gostoso abraço e sou aquecida pelo beijo materno. Os irmãos presentes no recinto sorriem. É sublimemente delicioso ter mãe!
Deixo-me ficar por uns instantes a receber elogios: mães amam elogiar a prole! E em segundos me dirijo a admirar aquela de quem tanto almejei a presença: Minha irmã mais velha.
Melhor, a primogênita, a que nasceu antes de mim. “Mais velha”, por quê? Reflito indignada, “Mais velha” do que eu? Como assim? Não sou velha, ora bolas! Que falta de criatividade de quem inventou essa maneira de se retratar aos irmãos que nos antecederam!
Brincadeiras a parte, voltemos à narrativa. Os primos logo se entrosam intermediados pelo gosto em comum: O Playstation.
Minha mãe está confortavelmente pilotando o fogão, o que não perde para piloto algum, enquanto minha irmã tenta colocar a casa em ordem prevendo visitas posteriores, de algum parente. Dito e feito! Aos poucos a casa foi enchendo-se de visitantes para recepcionar as visitas importadas da capital das Alagoas.
Conversamos pouco, mas foi bom! A macaxeira feita A La mãe, acompanhada de um charque (jabá) nordestino, trouxe-me a lembrança da minha infância. Cada prato servido pela nossa mãe tinha sabor único, não importava quão simples fosse!
Fui à faculdade contra a minha vontade e ao sair entraram mais duas visitas que vieram visitar as recém-chegadas.
Após a faculdade, apropriei-me da desculpa de ter deixado meu filho na casa com as visitas, e voltei à companhia delas, saindo de lá já em altas horas. Claro que retornei outras vezes, e tentei aproveitar ao máximo o prazer de suas passagens por São Paulo e em nossas vidas.
Ainda não conheço meu cunhado, mas em breve dias chegará. Será gratificante tê-los ao nosso redor e conhecer àquele que há quinze anos escolheu a companhia e o coração de minha irmã e que, com ela, nos presenteou com um lindo sobrinho a quem amei conhecer.
Porém, o problema das viagens é que as visitas, assim como vem se vão. E em breve, toda essa farra se acabará e cá ficaremos tocando nossa vida programada, e lá estarão os que retornarem recomeçando de onde pararam. Um vazio oco tomará lugar das conversas, risadas e até das lágrimas que porventura possam surgir. A saudade minará todos os cantinhos dos lugares por onde passaram e explodirá nos corações que se  atreverem a pisar neles.
O fogão falará do charque com macaxeira, o prato azul nos lembrará de algum guloso que o encheu até a borda com a boa comida caseira, o varal balançará saudade em forma de panos que a irmã lavou e cuidadosamente estendeu a aquecer-se, do sofá ecoará as gargalhadas e risadas diversas das visitas que vinham e iam, e que iam e vinham, sem parar.
O cantinho onde a mala ficou escondida murmurará sua solidão. O cheiro do perfume já apagado do recinto será ativado na memória toda vez que se adentrar ao banheiro. O retrato, que dantes retratava uma única imagem, reproduzirá dois rostos saudosos:  O da figura retratada na tela, e o da imagem dos olhos marejados que o admirava todos os dias.
As peças emprestadas para ajudar a espantar o frio paulista, gritará aos ouvidos de seus donos o agudo grito da saudade. As indumentárias serão as mesmas, mas o corpo a usá-las, por um bom tempo, serão as fantasmagóricas imagens das recordações.
Porém, prevenidos como somos, não perderemos esses momentos dourados. Registramos, e continuaremos a registrar, toda essa história num flash, e até gravamos, e gravaremos ainda, os breves momentos que se farão eternos a cada rebobinada do vídeo.
E, em forma de fotos ou vídeos, espantaremos as saudades, vendo, ouvindo, lembrando e curtindo todos os pequenos e grandes instantes que passamos juntos daquelas que são a parcela e a extensão da grande e feliz família Castanha Santos.

Leila Castanha
06/2013


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