A mulher sai do carro com o
rosto coberto porque chora devido a tensão de ter um revolver apontado para sua
cabeça. Duas horas de negociação e o jovem delinquente não aceita se render. Ele, não precisa encobrir o rosto porque os
seus direitos são claros: A tarja é colocada sobre sua face antes de sua
insanidade ser exibida na TV.
A mãe se aproxima, meio
distante, convencida pela policia de amolecer a consciência da prole. Ela, que
bem o conhece, mantém certa distante e tenta colocar juízo na cabeça do filho
rebelde. Do outro lado da cortina da violência, o juizado de menor lhe reforça
o ato criminoso, soprando-lhe aos ouvidos os seus direitos.
À moça aterrorizada seus
direitos já foram exercidos durante o ato criminal: Ela pôde tremer de medo, não reagir para proteger a vida e ainda teve o direito de esconder o próprio
rosto ao chorar. À ele, embora
tendo furtado o carro da vítima e a
sequestrado, foi primeiramente vitimado pela sociedade que o tratou tão mal a
ponto de induzi-lo a tais atos criminosos.
A moça não devia tê-lo tentado
com o carro luxuoso ou a joia a mostra.
Ela pagou por merecer. Na verdade, ela foi
ainda mais sortuda que o pobre gatuno, que só lhe enfiou a arma na cabeça por
causa de sua incompetência como vítima
que culminou em alertar a polícia que
lhe saiu a perseguição.
Como paga pelo insulto e
intromissão, os policiais poderiam até prendê-lo, mas que, diante da imprensa lhe
assegurassem os seus direitos civis.
Ela, já tem direitos por
demais: Saiu com vida e a partir de amanhã poderá voltar a seus afazeres
costumeiros. O carro, ainda que danificado na fuga, deve lembrar-lhe o quanto teve
sorte por sair ilesa, enquanto que o pobre menor, vítima da sociedade, será
carregado pelos homens de farda.
Ele vai para a Fundação Casa
e enquanto aguarda seus direitos ficará um ou dois dias, talvez um pouco mais,
bebendo, comendo e dormindo a custa das
contribuições de suas vítimas e planejando um novo esquema, que seja mais
perfeito, já que o fato de ali estar denuncia a falta de sucesso de seu “trabalho”
anterior.
Ela também vai para trás das
grades. Não porque os tiras a levaram, mas porque as imagens de suas lembranças
de terror encarceraram-na atrás de janelas engradadas e de portas trancafiadas,
no lugar na qual costumava chamar de lar.
Ele, em breve estará nas
ruas e ninguém saberá quem é, porque sua
imagem foi preservada. Seus direitos se
encarregaram de fazê-lo livre antes mesmo de sair da prisão.
Ela, não tem a menor ideia
de quanto tempo ficará cativa de seu medo e se um dia poderá gozar a liberdade.
Seu nome foi exposto na mídia e sua imagem divulgada aos quatro ventos. Seu carro e seus pertences pessoais que
exibia no dia do incidente a incriminará sempre de incitar a violência no coração
do “pobre” menor. Assim, se conseguir sair do cativeiro doméstico que seu medo
a encarcerou, dificilmente ficará livre do cárcere psicológico e talvez nunca
mais se dê a liberdade de fazer ou de usar o que bem desejar. Sua liberdade
será restrita, medida e avaliada a partir da suposta reação dos marginais que,
por ventura a aguardam para um novo ataque. Assim será sempre escrava dos
menores infratores tendo de assumir uma posição reflexiva, ponderando suas
decisões, a fim de não incitar o
aparecimento do monstro escondido no
interior dos pobres infratores que se manifestarão diante de seus olhos na
forma de vagabundos ambiciosos e invejosos que preferem subtrair a somar na sociedade.
Mas os direitos humanos
tenta gritar aos ouvidos dela que o pobre “garoto” que a aterrorizou não é tão
mal assim, afinal, estava agindo sob o domínio da droga.
Ela que agia com clareza de
mente, talvez devesse ser mais cuidadosa
e não despertar a avareza na “pobre” criatura que, aos dezessete anos, ainda não passa de uma
criança.
O jeito é calar-se, pois
quando a injustiça grita, ela não consegue ouvir o bom senso, e sendo a justiça
cega, não pode ver as dezenas de
cidadãos honestos que são trancafiados em suas casas cada vez que um menor infrator é posto em
liberdade.
Assim, sorrindo e zombando
de suas vítimas, o marginal é solto enquanto no interior de sua casa, aos
prantos e com medo da própria sombra, ela murmura impotente:
- E ainda se fala em
direitos civis.
Leila Castanha
09-2013
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