“Estou de dieta!” Anunciei à minha família. “Está de regime?” Perguntou algum engraçadinho. Pensei por um minuto e respondi com o orgulho ferido: “Não, estou de dieta, regime é para obesos.”
Menti tão bem que quase
acreditei na minha própria mentira. Claro que eu estava de regime, afinal, o
propósito do meu sacrifício era para EMAGRECER. Mas admitir isso era o mesmo
que admitir que eu estava GORDA. Isso nunca!!! Cheinha, fofinha, talvez, mas GORDA, jamais!
Algumas semanas passaram e após
o regime e muitos copos de berinjela com limão, me surpreendi ao pesar-me: “Uau!
- Pensei tentando conter minha vontade de gritar - Emagreci dez quilos!”
A partir de então, sempre
que uma roupa entrava em mim eu mandava tirar fotos. Depois, eu ficava horas a
fio comparando o antes e o depois. Pegava as fotos e mostrava a minha família:
“Olha como emagreci! Nossa! como eu estava GORDA!”
E tinha mais: Eu fazia
questão que me achassem gorda nas fotos anteriores ao meu regime. Agora era
elogio. Se eles admitiam que eu era gorda, significava que concordavam que eu havia emagrecido mesmo. O problema era
quando alguém dizia que não havia reparado a mudança. Eu tinha vontade de socar essa alma penada,
mas contentava-me em apenas ouvir uma vozinha cheia de despeito gritar lá do fundo do meu
orgulho ferido: “Ô inveja!”
Meus parentes, que há muito não me viam, não
escondiam a surpresa em me ver tão esbelta e BONITA! Eram tão convincentes em
seus elogios que até deixei postarem fotos minhas no facebook. E olha que odeio me expor! Mas, conforme
alguns diziam, seria um desperdício fazer tanto esforço para emagrecer e não
deixar as pessoas constatarem.
Como disse, emagreci dez
quilos e estava sorrindo a toa. Muitas vezes, quando eu passava por alguma gordinha
sentia um misto de pena dela e orgulho da minha força de vontade. “Quem
dera fosse tão determinada quanto eu!”
Talvez, hoje eu esteja
pagando pelos meus pensamentos anti-gordinhos e meu sentimento de altivez, pois,
apesar de meu sucesso em emagrecer e do reconhecimento da maior parte do
público, um dia flagrei-me com a boca cheia de doces. Ai, que ódio que senti de
mim! Não pude crer que tive uma recaída.
- Não!. - Pensei, afastando o
pensamento que tentava me afundar na culpa. - Não sou uma drogada para ter
recaídas”.
Enquanto ganhava tempo
imaginando a desculpa perfeita para a minha consciência me deixar em paz,
enchia cada vez mais meu estômago de porcarias açucaradas e gordurosas.
Nos três primeiros dias,
lembrei-me de vomitar. E acredite: Senti-me tão leve como se tivesse malhado
horas
Mesmo assim, corri ao
espelho para ver se o mal já tinha surtido efeito. Examinei o meu rosto e
detectei que ainda estava com aspecto magro.
Os braços não grudavam na manga da camiseta e a cintura ainda aparecia.
Sorri aliviada e jurei a mim mesma que esta era a última vez que faria aquela
loucura.
Dois dias depois me flagrei
comendo um pote de sorvete de creme. A cada colherada meu cérebro se contorcia
pela culpa e tentava enviar ao estômago a ordem de parar. O estômago doía e se
retorcia como se quisesse convencer a boca de não enviar-lhe mais aquela
delícia, que em poucos dias, amargaria como fel. Mas, as mãos não atendiam ao
apelo da boca que, sem escolha, recebia mais e mais colheradas daquele demônio
gelado.
Após comer o primeiro pote,
veio o segundo (comprado só para o outro dia), mas eu sabia o que fazer:
Vomitei tudinho e me senti “limpa” de novo.
Outros desvarios se
repetiram e em um desses dias em que o pecado vence o pecador, fui vencida pela
gula. Desta vez era comida saudável, mas a qualidade foi equiparada a
quantidade. Caprichei, embora só descobri isso depois de ter limpado o prato.
Os olhos (maior do que a boca) davam uma rápida examinada no corpo e mentiam-me
dizendo que não comi muito, mas a consciência (Ô bichinha chata!) essa não me
dava sossego, repetindo sua ladainha: “Você é louca? Quer virar uma baleia?!”
Atordoada pela culpa tentei
ser mais forte do que ela e deixei passar uns minutinhos antes de botar as
tripas para fora. Já que pequei, pensei que deveria curtir mais um pouco o sabor do pecado antes
de expurgá-lo para fora de mim. Nesse meio-tempo precisei fazer alguma coisa urgente
e, meia hora depois, soltei um grito de
pavor: “Meu Deus! Esqueci de vomitar!”
Corri para o espelho e olhei
minhas bochechas. “Ufa! - Pensei, aliviada. – Parece que ainda estão do mesmo
jeito.” Fiz o mesmo com o resto do corpo e comprovei que estava tudo em cima. Senti-me
a pessoa mais sortuda do mundo: Depois de tanto esforço para emagrecer,
finalmente consegui alçar a minha meta e
agora meu corpo parece ter preguiça de engordar de novo. Soltei um largo sorriso que, aos poucos, foi
virando risada e, por fim, meus filhos me acharam às gargalhadas:
- O que aconteceu, mamãe?, perguntaram-me como se houvessem visto fantasmas.
-O que não aconteceu,
queridos! - respondi-lhes nos intervalos
das risadas. - Eu não engordei nadinha!”
É verdade que meus filhos
também não entenderam nadinha, mas eu estava tão feliz que não podia interromper
aquele momento para explicá-los.
Dias depois, me deparei com
novos sorvetes, doces e balas. O almoço já estava com uma ou duas colheradas a mais.
Quando me sentia culpada
fingia que não havia comido muito e pronto!
A essa altura eu não tinha mais
tempo para vomitar. Os afazeres deixavam-me tempo apenas para beliscar algumas
guloseimas e voltar ao trabalho.
Aos poucos percebi que uma
ou outra peça não cabia mais em mim e observei algumas gordurinhas em volta da
minha cintura. O rosto não sei como está, porque faz tempo que não tenho
coragem de me olhar no espelho.
Não sei exatamente o quanto
engordei, mas com certeza achei alguns quilinhos que havia perdido em meu
regime.
Meu marido diz que estou
bem, mas não posso acreditar nele porque os homens sabem que se quiserem viver jamais devem dizer a uma mulher que ela está gorda. E ele é um homem muito
inteligente!
Meus filhos me amam e jamais
me magoariam. Os parentes são educados e aprenderam que nunca devem esconder um
elogio, da mesma forma que não devem dizer tudo o que pensam. Só me restou
você, que não é meu amigo e nem meu inimigo.
Mas não se preocupe , não
vou colocá-lo contra a parede, pois desde pequena fui ensinada que não devo
perguntar o que não quero ouvir. E ai de você se disser que estou gorda! Aliás,
não sei por que as pessoas confundem tanto as "cheinhas" com as gordas!
Até mais, caro leitor, e
assim que recuperar o peso que perdi e depois encontrei, postarei muitas fotos
no meu facebook.
Mas, até lá não me censure, pois
já me bastam as lágrimas diárias, e, além disso, você já leu o que Jesus disse aos que adoram acusar?
“Quem não tiver pecado que
atire a primeira pedra!”
Será que você nunca teve uma
recaída?
Leila Castanha
01-12-2014
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