Cuido
de crianças enquanto seus pais vão ganhar o pão de cada dia. Não posso
descuidar-me de nenhuma para não haver brigas ou qualquer outro tipo de
violência entre elas. Cuido para que aprendam conviver em sociedade e
respeitem-se mutuamente.
Trabalho
com a mente humana e suas complexidades, trazendo o indivíduo ao conhecimento
do seu Eu, e ajudando-o a encontrar-se consigo mesmo.
Meu
ofício é, também, assegurar a integridade física de dezenas de adolescentes e
impedir sua evasão de dentro do recinto , para evitar estranhamento entre eles.
E, se no local em que se encontram reclusos houver tumultos e violência entre
si, meu dever me força a intervir, a despeito de minha segurança.
Trabalho
como mediador, conciliando os que agem de modo ostensivo e contornando os
desentendimentos entre as partes, na busca por soluções rápidas e precisas para
evitar maiores conflitos.
Sou
a pessoa que está grande parte do meu tempo com eles: ouço-os, aconselho-os e
os disciplino, quando necessário. Procuro orientá-los a fazer boas
escolhas e construir um bom futuro. Quando crescem e se vão, torço que tenham me
dado ouvido e me façam sentir orgulho deles.
Sou
ao mesmo tempo: babá, psicóloga, carcereiro, assistente social, mãe e professora,
embora tenha escolhido e me formado para exercer apenas uma dessas funções, pela qual me estribei nos bancos universitários e concorri
a concursos a fim de assumi-la.
Sou,
única e simplesmente, professora. No entanto, devido à falta de seriedade de
nossos governantes, tenho que assumir cargos nos quais não fui habilitada.
E
o pior é que, apesar de ser um profissional múltiplo, com múltiplos alunos, que
chegam com múltiplos problemas de suas casas, e que dependem de mim para
encontrar múltiplas soluções para os seus múltiplos conflitos, trabalho numa
escola com múltiplas defasagens, e ainda há quem tenha a cara de pau de me
pagar um salário multifacetado.
Sou
professora. Um ser humano com limitadas condições de trabalho e de vida (devido
ao pouco salário e a falta de infra-estrutura no ambiente profissional),
trabalhando em um órgão comandado por políticos limitados, com limitada visão
educacional, cuja incompetência limita o nosso trabalho, limita o nosso salário
e, consequentemente, limita o futuro do nosso país.
Sou
professora. Amo o que faço, e pretendo dar o melhor de mim a fim de educar os
filhos deste país. Todavia, acredito que o Brasil só terá solução quando os
políticos perceberem que um país sem educação só terá a aprender a falta de
respeito ao próximo, herdada de seus governantes, que surrupiam o direito
popular e fingem para população que se preocupa com a educação, ao mesmo
tempo que exigem que os professores
trabalhem sem estímulo algum, forçando os mais desanimados a fingirem que
ensinam, enquanto passam, indistintamente, em nome da chamada progressão
continuada, um sem número de alunos, que, por sua vez, fingem que aprendem.
Futuros
líderes de uma nação que tem como espelho políticos que só pensam legislar em
causa própria, desprezando àqueles que o constituíram seus representantes.
Líderes quais espelhos embaçados, onde a moral
e a ética não se podem enxergar e que, com suas atitudes, levam nossos jovens a
aprenderem o egoísmo, a indiferença e a corrupção.
Líderes
sem escrúpulos que no lugar de um eficiente sistema educacional fazem o povo
regressar aos tempos da caverna, onde a sobrevivência fica por conta, não dos
mais dedicados e prendados, mas dos mais ágeis, dos mais espertos, e dos mais
fortes.
Sou
professora. Mais não me cabe mais ensinar a disciplina na qual me habilitei,
pois o momento urge o ensino da ética e da moral, pois sem a consciência das
mesmas, nem sequer consigo lecionar.
Para
grande parte dos educandos a vida é um jogo, onde tudo depende da sorte, e não da qualidade de sua educação.
Sou
professora, tentando trabalhar em um país que menospreza o conhecimento, cujos
líderes estão pouco a pouco deixando como legado para as futuras gerações a
ignorância, cuja filha é a violência, e que tem por pai a ganância, que, por sua vez, é gerada pelo egoísmo humano.
Leila
Castanha
25/05/2014
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