quinta-feira, 19 de junho de 2014

PROFISSÃO: PROFESSOR?

     
Cuido de crianças enquanto seus pais vão ganhar o pão de cada dia. Não posso descuidar-me de nenhuma para não haver brigas ou qualquer outro tipo de violência entre elas. Cuido para que aprendam conviver em sociedade e respeitem-se mutuamente.
Trabalho com a mente humana e suas complexidades, trazendo o indivíduo ao conhecimento do seu Eu, e ajudando-o a encontrar-se consigo mesmo.
Meu ofício é, também, assegurar a integridade física de dezenas de adolescentes e impedir sua evasão de dentro do recinto , para evitar estranhamento entre eles. E, se no local em que se encontram reclusos houver tumultos e violência entre si, meu dever me força a intervir, a despeito de minha segurança.
Trabalho como mediador, conciliando os que agem de modo ostensivo e contornando os desentendimentos entre as partes, na busca por soluções rápidas e precisas para evitar maiores conflitos.
Sou a pessoa que está grande parte do meu tempo com eles: ouço-os, aconselho-os e os disciplino, quando necessário.  Procuro orientá-los a fazer boas escolhas e construir um bom futuro. Quando crescem e se vão, torço que tenham me dado ouvido e me façam sentir orgulho deles.
Sou ao mesmo tempo: babá, psicóloga, carcereiro, assistente social, mãe e professora, embora tenha  escolhido e me formado para exercer apenas uma dessas funções, pela qual me estribei nos bancos universitários e concorri a concursos a fim de assumi-la.
Sou, única e simplesmente, professora. No entanto, devido à falta de seriedade de nossos governantes, tenho que assumir cargos nos quais não fui habilitada.
E o pior é que, apesar de ser um profissional múltiplo, com múltiplos alunos, que chegam com múltiplos problemas de suas casas, e que dependem de mim para encontrar múltiplas soluções para os seus múltiplos conflitos, trabalho numa escola com múltiplas defasagens, e ainda há quem tenha a cara de pau de me pagar um salário multifacetado.
Sou professora. Um ser humano com limitadas condições de trabalho e de vida (devido ao pouco salário e a falta de infra-estrutura no ambiente profissional), trabalhando em um órgão comandado por políticos limitados, com limitada visão educacional, cuja incompetência limita o nosso trabalho, limita o nosso salário e, consequentemente, limita o futuro do nosso país.
Sou professora. Amo o que faço, e pretendo dar o melhor de mim a fim de educar os filhos deste país. Todavia, acredito que o Brasil só terá solução quando os políticos perceberem que um país sem educação só terá a aprender a falta de respeito ao próximo, herdada de seus governantes, que surrupiam o direito popular e fingem para população que se preocupa com a educação, ao mesmo tempo  que exigem que os professores trabalhem sem estímulo algum, forçando os mais desanimados a fingirem que ensinam, enquanto passam, indistintamente, em nome da chamada progressão continuada, um sem número de alunos, que, por sua vez,  fingem que aprendem.
Futuros líderes de uma nação que tem como espelho políticos que só pensam legislar em causa própria, desprezando àqueles que o constituíram seus representantes.
 Líderes quais espelhos embaçados, onde a moral e a ética não se podem enxergar e que, com suas atitudes, levam nossos jovens a aprenderem o egoísmo, a indiferença e a corrupção.
Líderes sem escrúpulos que no lugar de um eficiente sistema educacional fazem o povo regressar aos tempos da caverna, onde a sobrevivência fica por conta, não dos mais dedicados e prendados, mas dos mais ágeis, dos mais espertos, e dos mais fortes.
Sou professora. Mais não me cabe mais ensinar a disciplina na qual me habilitei, pois o momento urge o ensino da ética e da moral, pois sem a consciência das mesmas, nem sequer consigo lecionar.
Para grande parte dos educandos a vida é um jogo, onde tudo depende da sorte, e não da qualidade de sua educação. 
Sou professora, tentando trabalhar em um país que menospreza o conhecimento, cujos líderes estão pouco a pouco deixando como legado para as futuras gerações a ignorância, cuja filha é a violência, e que tem por pai  a ganância, que, por sua vez, é gerada pelo  egoísmo humano.

Leila Castanha
25/05/2014


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