Sou muito ligada a minha casa. Amo arruma-la, organiza-la e deixa-la agradável. Sonho com o dia em que poderei comprar móveis novos e muitos enfeites para adorna-la. Algumas pessoas não entendem porque tenho tanta fixação por minha casa. Aliás, não é apenas pela minha, mas amo ver mudanças na casa de pessoas que me são próximas.
Hoje parei para pensar sobre o
porquê gosto tanto de perder tempo idealizando minha casa. Folheio revistas
sobre o assunto e sou atraída por qualquer programa ou até mesmo conversas
informais que tratem desse tema. Sofro
muito por este hobby, pois meus sonhos custam dinheiro e sendo pobre, não é privilégio meu poder realizá-los. Mas, com
certeza, há motivos para eu gostar tanto de idealiza-la.
Bom, descobri o seguinte: Meus
pensamentos e sonhos, não se tratam da casa, mas de mim. Minha casa é apenas
uma extensão de mim mesma. Ela reflete o que penso, o que gosto, o que admiro,
o que desejo e o que sou. Ela é um espelho de minha mente.
Por exemplo: Adoro ler e
escrever, por isso eu passo horas imaginando como seria o cômodo de meus sonhos, que é uma
biblioteca.Teria estantes enormes, empilhadas de livros e revistas de diversos
temas. Porque enormes? Simplesmente porque é o tamanho do meu gosto pela
leitura. A escrivaninha de madeira escura com objetos claros sobre ela seria,
nada menos, do que a materialização do meu gosto pela escrita. Madeira, porque me remete à simplicidade:
gosto da rusticidade bucólica, e a madeira me traz essa lembrança. Os objetos claros sobre ela, seriam assim escolhidos porque me remetem à
limpeza. Sou fascinada por ela! Amo ver tudo limpo e organizado. Portanto, a
verdade é que minhas escolhas retratam minha própria personalidade. Sou muito
preocupada com higiene e a beleza da simplicidade me inspira!
Outro cômodo que me fascina é o quarto. Sonho
acordada com cada detalhe. Se eu tivesse condições financeiras, teria uma cama
larga,alta e aconchegante com belos forros que a tornariam deslumbrantes. Colchão
da mais alta qualidade para resguardar minha coluna e para ter um sono
agradável! Compraria uma poltrona confortável que me serviria nos momentos de
leitura ou quando fosse ver TV. A mesinha ao lado da cama traria um
porta-lápis, um caderno e alguns poucos livros à mão para que eu pudesse lê-los
antes de dormir. Do outro lado apenas um criado-mudo com um abajur sobre ele e
um aconchegante tapete aqueceria os pés de minha cama. À frente, uma pequena
mesa me serviria como escravinha e para tomar um cafezinho quando eu estivesse
só. E, claro, teria um banheiro.
Em resumo: Meu quarto, descrito
acima, dentre outras coisas, exporia meu lado reservado e minha necessidade de
espaço. Amo ter minha privacidade respeitada e, portanto, nada melhor que um
pedacinho de cada cômodo nele.
Na sala de
estar, imagino um lugar amplo e bem aconchegante. Lustre no centro da sala e
arandelas nas paredes do corredor. Exatamente! Não gosto de lugares
escuros. Um tapete com cores que remetessem aos móveis cobriria
o chão em frente dos sofás e rack e teria um quadro, talvez com a figura de uma
casinha de sapé no meio do verde e um rio deslizando entre as pedras, no qual as pessoas pudessem vislumbrar a
beleza da natureza e a riqueza de sua simplicidade. Amo as coisas simples e
belas! Logo, não é o quadro que me fascina, mas a figura singela seria apenas o
meu Eu materializado nele. Na realidade, não é a sala aconchegante que vislumbro
em meus sonhos de reforma, mas o meu modo de querer receber as visitas
acaloradamente. Não são os belos lustres e arandelas que gritam em meus
delírios, mas a minha satisfação em ver a beleza do mundo de forma clara e nítida.
A sala de jantar teria uma enorme
mesa com oito cadeiras e um lustre sobre ela. Um espelho ampliaria o espaço e
um quadro a frente da mesa daria aos convidados o prazer de visualizar figuras
genialmente pintadas que lhes encheriam os olhos enquanto degustassem o
alimento servido em belas louças. Belas, no entanto, sem muito requinte. Os
requintes são para os poderosos, mas eu apenas desejo viver bem. Bem conforme a
minha medida, já que cada um tem a sua própria medida de prazer e
satisfação. Minha casa recontaria meu
passado humilde em criatividades de bom gosto entre o simples e o belo.
Imagino os enfeites sóbrios sobre
o rack, que nada mais seriam senão o retrato da minha paixão pela beleza e o
valor que dou à virtude da moderação. Sou uma pessoa equilibrada e costumo
ponderar minhas ações. Odeio excessos! Sou contida em todas as minhas relações
e atitudes. Como isso não apareceria de alguma forma na casa de meus sonhos?
No quarto pincelaria uma cor
sóbria com alguns detalhes em cores quentes para ressaltar o meu cantinho de
aconchego. Na sala, pintaria com cores calmas para relaxar os convidados. Na
cozinha, cores alegres como prenúncio da festa do estômago guarnecido pelo
alimento que dela sobrevém. Na sala de
jantar, brincaria com as cores vivas, enquanto
que na biblioteca espalharia cores suaves
e neutras para não desviar minha atenção
nos momentos de leitura ou escrita.
Na verdade, não existe regra
alguma sobre o que falei em relação a estas tonalidades de cores para os
determinados cômodos, mas o que é realmente seguro afirmar é que é dessa forma
que me sinto em relação a cada cômodo. Portanto, a cada pincelada de tinta e nas
sensações que elas produzem, sou eu o tempo todo e meu modo de encarar cada
espaço de minha casa.
Assim, descobri que gosto de
pensar em minha casa, porque gosto de pensar em mim e em minhas necessidades.
Não é a casa que precisa de reparos, mas eu. Não é a casa que precisa de algum
móvel para completá-la, mas eu que me sinto incompleta nela. Não é a parede que
pede pintura, mas minha sensibilidade que grita por algo que me retrate. Não é o móvel que é feio, mas eu que não me
vejo retratada nele. Sou eu o tempo todo e não a casa. É o meu desejo de
encontrar-se comigo mesma no meu ambiente de vida, que me faz perder longas horas
de meu dia pensando e repensando o quê e como fazer para melhorar o visual e o
designer de minha casa. Ou seja, como e o quê fazer para melhorar a minha autoestima
e satisfazer os meus caprichos.
Por que sou tão afixada em
melhorar a minha casa? Porque minha casa não é apenas um espaço onde me abrigo
e fixo endereço. Minha casa é a extensão de mim mesma. Minha casa é o retrato
dos meus sentimentos mais ocultos. Minha casa é a versão resumida de toda a minha
vida. Cada móvel, pintura ou adereço são pequenos pedaços de mim. Os cômodos
são os desenhos de minhas necessidades que mudam a cada situação do dia: Ler,
dormir, ver TV, comer, cuidar da higiene pessoal, receber visitar, me recolher, enfim...
Os sonhos que idealizo sobre a
minha casa, nada tem a ver puramente com a casa, mas comigo. A casa dos meus
sonhos é a versão da minha personalidade feita em alvenaria e mobiliada com
minhas necessidades e minha particular visão de mundo.
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