sábado, 27 de julho de 2013

TENSÃO


Estou  tensa! O peso da responsabilidade me dói os ombros e maltrata minha coluna. Carrego sobre os lombos doridos o peso do mundo. De um mundo pequeno e fechado na qual se insere a minha vida.     Contas e mais contas, preço que a existência me obriga a pagar. Como é caro viver! E olha que a minha vida não exige tanto quanto a de muitos neste planeta cujo nome nos leva a lembra-nos que somos apenas forasteiros, com passagem de volta previamente comprada. Terra, o planeta em que vivemos a vida e que, ironicamente, já traz em si outra terra cujo lugar é nosso jazigo de morte. Vivemos numa corda bamba e qualquer descuido é suficiente para passarmos de um alto projeto de vida para o mais profundo leito de morte.

Estou tensa! Preciso pagar pela vida e me acho sem emprego. Minha fonte está secando e minha sede de justiça só aumenta. Preciso viver, no mínimo, sobreviver, mas como pagar pela vida sem o dinheiro necessário? Estou tensa! Sinto medo dos credores, que envoltos em suas razões me ligam incessantemente em busca da cobrança de meus débitos. Desligo o telefone, mas a campainha de meu cérebro honesto não cessa de tocar lembrando-me de cada pagamento não efetuado. Meu coração sensível à pressão e meus nervos em retalhos ameaçam tirar minha sanidade mental por culpa dos meus sensores de honestidade que em mim foram implantados desde a infância.

Porém, apesar de meu senso de justiça, não posso pagar pela vida.  E como é cara! Precisamos comprar a paz erguendo altos muros e cercando nossas casas com grades, necessitamos comprar prazer, investindo nosso dinheiro em roupas, calçados e acessórios, precisamos comprar bem estar adquirindo peças diversas que levamos para nossos lares e nossas vidas, somos obrigados a todo o momento pagar o alto preço pelo nosso futuro, investindo em algo que não nos deixe ficar na mão quando os credores da vida exigir o pagamento de nossas contas com os juros decorridos e tantas vezes aumentados.

Estou tensa! Tenho uma vida para pagar e outras sob minha tutela e não vejo saída. Quero pagar pelo que comprei e efetuar novas compras conforme exige a necessidade para se viver. Quero ter em alto grau minha honra e educação. Quero lutar pela minha vida, mas não há vagas. Quero trabalhar pela minha sobrevivência, mas não tenho habilitação. Quero voltar a assumir o controle de minha existência, mas não acho o caminho.  Quero sonhar de novo ao invés de viver nesse emaranhado de pesadelos, mas meu sono é revolto. Preciso voltar a comprar minha paz, a adquirir minha felicidade, a possuir meus objetos de prazer, a conquistar meus projetos para o futuro. Preciso voltar a ser eu e libertar-me da sombra insana que me persegue, do meu eu perdido e sem rumo.

Estou tensa! Perdi meu nome, meu respeito, minha alegria, minha paz, meu bem estar, meu prazer, meus anseios futuros e minhas convicções pessoais. Nos meus registros públicos meu nome é inadimplência, minhas qualidades resumidas como inadimplente e meu caráter obscurecido pela dívida.

Estou tensa! Me dói o corpo por não conseguir relaxar. Minhas vértebras sentem o esforço da tensão que pressiona minha cabeça. Minhas mãos tão ávidas para o trabalho, tremulam e entrelaçam-se em preces a Quem pode me fazer descansar:

Só tu Senhor, podes tirar-me deste charco de lodo e me fazer habitar em lugar seguro!

Por ora, estou cansada de lutar sem avistar a vitória e meu corpo grita em desespero:

Socorre-me Senhor, estou tensa, estou tensa, extremamente tensa!


Leila Castanha

07/2013


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