Companheiro
em noites longas quando o sono me largava
Em viagens
bem distantes do chão vinha me tirar
Poderoso
e altaneiro, suas asas me elevavam
Nada
no mundo podia do seu poder me livrar
Já
fui longe, temerosa, junto ao pé de Dom Quixote
Com
seu amo subalterno, Sancho Pança, lhe servi
Resoluto
e altaneiro, com espada sempre pronta
A milhares de miragens, a seu lado socorri
Com
Bentinho, de Machado, vi a trama da tragédia
Seu amor enlouquecido, em ciúme converter
Capitu,
pobre amiga, pude vê-la ir-se embora
Para
longe do amado, na Europa falecer.
E seu
filho Ezequiel, cuja sorte a morte
entrega
Foi
qual morto para o pai, culpado de sua dor
Rejeitado
por ciúme, com um nome a condenar-lhe
Nunca
soube o que seria o paterno e doce amor
Inda
penso na desgraça que Bentinho fez na vida
Apesar
de passo a passo sua história eu conhecer
Prometi
a Capitu, quando Bento a acusara
Sua
honra e honestidade sempre haver de defender
Já
estive entre as matas com a bela Iracema
Vi o
encontro com o branco a quem muito ela amou
Fugi
com ela da tribo onde viveu com seu homem
O
bravo Martin, guerreiro, por quem a vida doou
Que
sofrimento avistei naquela pobre indiazinha!
Sempre
que o Amor precisava para longe dela ir...
Até
que um dia horrível com a criança em seu peito
Vi
esperar seu amado, e em seus braços sucumbir
Chorei
a dor da saudade que aquela índia deixara
Esperei
Martin Soares sua amada enterrar
Deixei
pegar sua filha e num barco ir-se embora
Só
então que em meu mundo me permiti retornar
Porém
pior desventura do que sofreu Iracema
Teve
a coitada Isaura, escrava, que padeceu
Das
escravas despeitadas suportou toda afronta
Do
senhor, que não amava, muitos assédios sofreu
E da vida no cortiço pude ver com Aluizio!
João
Romão, egoísta, contemplei a prosperar
Explorando
os moradores da vila tão mal cheirosa
Bertoleza,
coitadinha, só usou pra lhe enricar
Já
bem rico e inserido na elite com fidalgos
Pôs
os olhos na filhota do rival que conquistou
E a
pobre Bertoleza entregou para escrava
Por
tamanho desalento a pobre, enfim, se matou!
E
Pombinha, pura moça, que tragédia lhe ocorrera!
Tão
ingênua! abusaram da pequena infeliz...
Sua
mãe, que ignorante, lhe doara à riqueza
Só
colheu de sua escolha uma filha meretriz
E o
sério português, cuja esposa venerava?
Depois
de ver a baiana, da mulher sentia asco!
Enquanto
a pobre sofria, na paixão ele afundava
De Rita
virou amante e da esposa carrasco.
Com
o bravo Fabiano e sua esposa Vitória
Os
meninos e Baleia, a cadela exemplar
Pude
ver naquela seca que nada lhes produzia
Homens,
cujas vidas secas nunca iam prosperar
Nem se achava no direito de ser chamado de gente
Cabra,
apenas, se dizia por contra a morte lutar
Seus
meninos, vidas murchas, jogados ao duro acaso
Sofriam
a desventura de nascer naquele lar
Não
era uma casa triste nem seus pais eram vadios
Cabra
macho o Fabiano, e a mulher de valor
Mas do
mundo, tão estranho, nada eles conheciam
Quem
sabe lá na cidade, um dia serão doutor?
Pois
com toda a piedade, naquela seca medonha
Graciliano
ajudou aquela gente a mudar
Saindo
do anonimato, naquele local fantasma
Forçados
vir pra cidade e nova sorte tentar.
Saramago
me levou noutra cidade esquisita
A
cegueira repentina deixou todos sem visão
Era uma cegueira branca, mas a luz não resplendia
E
aos poucos se acabava o luzeiro da razão
Ninguém
podia saber se estava só no quarto
Ou
se ao lado da cama outra alma ali jazia
Que
horas que ali chegara e se o local era limpo
Nem
tampouco quando estava sob a noite ou pleno dia
Mas,
para a mulher do médico e pra mim a luz luzia
E
fingindo-se de cega, a tudo ela olhava
Não
sabia se era bênção ou maldição ter a vista
Que
valia ela teria se sozinha enxergava?
Reparei que tal história igualmente eu vivia
Pois por vezes percebi que em meu mundo era assim.
Tantos
corpos caminhando, no entanto, só eu via
Multidões
indo dispersas caminhando pra seu fim
Estes
são alguns dos livros que me aventurei na vida
Porém,
fiz muitas viagens, mil aventuras neles vi!
No
entanto, o tempo é curto e as folhas não dariam
Pra
contar tantas histórias que nos livros eu vivi.
Leila
Castanha
25/06/2014
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